Em Conjuntura Internacional, Destaques

Desde que os dois colossos asiáticos, China e Índia, readquiriram sua independência de ação no plano internacional (1947 para a Índia e 1949 para a China) o relacionamento entre eles passou a figurar entre os mais importantes do mundo, devendo hoje ser seguido com grande atenção. Cabe, pois, avaliar o impacto sobre essas relações das eleições parlamentares na Índia, nas quais 814 milhões de eleitores, pronunciando-se ao longo de um pleito em nove etapas (entre 7 de abril e 12 de maio de 2014), terminaram por colocar no posto de Primeiro Ministro o nacionalista de direita Narendra Modi, líder do Bharatiya Janata Party (BJP). The Economist (14.06.14) deu relevo a uma corrente de analistas que estão vendo Modi como a versão sul-asiática do Primeiro Ministro japonês Shinzo Abe. Já há algum tempo, estimuladas pelos EUA, Nova Délhi e Tóquio têm procurado atuar como sustentáculos de um arco estratégico de contenção da China, e Modi pareceu reforçar essa idéia ao anunciar que visitará Tóquio na sua primeira visita de importância ao exterior. Assinala-se, também, que os governantes chineses não foram convidados para a cerimônia de posse de Modi, mas que lá estava, em lugar de destaque, o Chefe do governo tibetano no exílio.

Os governantes chineses tendem a não se subordinar aos aspectos negativos das relações sino-indianas, martelados por umas quantas correntes do mosaico político da Índia.  Fugindo aos comportamentos de tipo Guerra Fria, os chineses inspiram-se cada vez mais nas características da novel Guerra Amena. Servem-se de fatos como o de ser a China o principal parceiro comercial da Índia, ou o de ter Modi apoiado sua vitória eleitoral em propostas de ordem econômica. Em 1988, as duas capitais produziram um acordo básico para o encaminhamento positivo dos problemas bilaterais, e mesmo o litígio fronteiriço, que em 1962 provocou um breve conflito armado, vem sendo tratado com atenção, já tendo sido possível demarcar vários trechos no terreno. Às inclinações atuais de Modi, os chineses contrapõem o registro de como ele recorreu muito à experiência chinesa, quando teve de enfrentar problemas concretos, nos seus longos anos à frente da Província de Gujarat. Nessa época ele fez várias visitas à China, uma delas por conta própria, no que chamou “viagem de estudo”.

Os dirigentes da “Quinta Geração” chinesa têm tido especial cuidado com as relações com a Índia. Em maio de 2013, dois meses após ser empossado, o novo Primeiro Ministro, Li Keqiang, visitou Nova Délhi cheio de entusiasmo. Falando em relações estratégicas maduras; em confiança mútua; e em interesses regionais a serem compartilhados. Na Índia estava ainda no poder o Partido do Congresso, e o Primeiro Ministro da época, Manmohan Singh, retribuiria a visita de Li no mês de outubro de 2013. Nos meses anteriores, Singh tinha estado muito ativo agitando o relacionamento da Índia com as “democracias asiáticas” (Japão e Indonésia no caso), todas preocupadas com o robustecimento da China. Não lhe foi possível, porém, deixar de fazer eco ao entusiasmo de Li Keqiang na visita deste a Nova Délhi. Nove convênios foram assinados durante a estada de Singh em Pequim, tratando entre outras questões da partição de rios e do combate ao terrorismo. À margem do trabalho dos Premiês, o Secretário da Defesa da Índia e uma alta patente do Exército de Libertação Nacional chinês assinaram um “Acordo de Cooperação na Defesa das Fronteiras”.

Os homens da “Quinta Geração” não perderam tempo diante da troca de governantes na Índia. Antes de completar um mês da vitória eleitoral de Modi, o Ministro do Exterior chinês, Wang Yi, foi visitá-lo em Nova Délhi, aparentemente como velho amigo. Na ocasião, um professor universitário de Xangai, escrevendo em órgão do PCC, vaticinou que Modi poderá revelar-se, no tocante à China,  não o Abe, e sim o Nixon da Índia – um líder de direita capaz de superar desconfianças para transformar relacionamentos.

Créditos de imagem: themorningsidepost.com

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