Em Conjuntura Internacional, Destaques

Na sexta-feira 8 de agosto de 2014, a aviação americana voltou a bombardear objetivos no interior do Iraque. Na véspera, dia 7, o Presidente Barack Obama havia anunciado sua decisão de romper com a política de não interferência no quadro político iraquiano, em vigor desde 2011, quando as tropas americanas foram oficialmente retiradas do país. Obama tentara criar um quadro político estável, apoiado na autonomia das terras curdas do Norte e na precária instalação de um governo central árabe. Procurara também deslindar-se do imbróglio criado no Oriente Próximo pelos catastróficos oito anos do governo de George W. Bush, efetuando o que ele chamou um “pivô” estratégico dos EUA para a Ásia e Pacífico.  A montagem de um tecido de ajustes entre Washington e umas quantas capitais do Leste Asiático, com a vantagem de funcionar na contenção geopolítica da China. É a trama desse tecido estratégico que está sendo seriamente esgarçada, forçando Obama a reengajar-se no Oriente Próximo.

O contexto da reviravolta está sendo fornecido pela súbita expansão, no interior das fronteiras da Síria e do Iraque, de um movimento terrorista extremado, com tendência a práticas de  genocídio, e que passou a conquistar bases territoriais próprias. Um grande choque reverberou na região com a inesperada ocupação, por tropas desse autodenominado Estado Islâmico (EI), de importantes áreas nos lindes da zona curda.   E quando, logo a seguir, surgiu a ameaça da ocupação de Erbil, além de um início de “limpeza étnica” entre pequenas minorias religiosas nos confins do Curdistão (v.g., os yazidis), Obama não pôde mais protelar. Uma grande operação humanitária foi lançada e a aviação americana freou os avanços do EI, também conhecido como ISIL.  Contingentes de centenas de “Conselheiros” estão sendo enviados ao Iraque, pondo-se ênfase em que não são combatentes. Por de trás disso tudo, vislumbram-se complexos entrelaçamentos diplomáticos dos EUA, que vêm de antes da retirada das tropas, e que dariam maior peso à CIA na condução da política externa americana. Nunca foi bem explicado, por exemplo, o episódio do Consulado americano em Bengazi (Líbia), em que morreu um Embaixador. Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, de que se começa a falar como “novo Dubai”, tornou-se também sede de Consulado americano com atividades que extrapolam as puramente consulares. Quando algo parecido com Bengazi pareceu a ponto de repetir-se em Erbil, sobreveio a precipitada ação americana.

Na coluna de hoje só estou podendo dar partida a uma tentativa de compreensão do novo quadro político que se abre no Oriente Próximo, compelindo Obama a rever seu “pivô”. Capítulo a desbravar será, por exemplo, o da origem e ideologia do EI. Terrence Mccoy, do The Washington Post, trouxe à baila um livro de 2006 – The Management of Savagery –, no qual o islamista radical Abu Bakr Naji (parceiro de Bin Laden que precisou ser por ele moderado!) defende práticas de extrema violência, como o caminho para a criação de um califado dos puros, que simplesmente extirpe de cena os rivais considerados descartáveis. E o bem informado analista de Le Monde, Gilles Lapouge, lembra como já em 2011, nos começos da revolta contra Bashar Assad, na Síria, começaram a engrossar as fileiras dos revoltosos brigadas vindas de muito longe, com objetivos próprios. Eram herdeiros da Al-Quaeda, mais ferozes e mais bem organizados.  O EI está demonstrando capacidade de lutar em duas frentes. À medida que a intervenção americana reconsolida o Curdistão, as legiões fanáticas do EI estão amealhando vitórias na região de Alepo, na Síria. Em Washington já se fala em intervenção neste segundo país.

 

Créditos de imagem: redecastorphoto.blogspot.com.br

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