Em Conjuntura Internacional, Destaques

Em março de 2014, conforme registrei em coluna daquele mês (http://bit.ly/1Fc9kGZ), o Presidente chinês, Xi Jinping, trouxe a público pela primeira vez sua proposta de criação de um Banco Asiático, voltado prioritariamente para o financiamento da expansão e aprimoramento da infraestrutura material do Continente. Xi estava em Jacarta, num giro por capitais do Sudeste asiático após a Cúpula do Leste Asiático, que se realizara no Brunei com a presença dos dez países da ANSEA e seus “parceiros do diálogo”. Fora uma das várias reuniões do processo de rebalanceamento da Ásia entre os EUA e a China, a que Barack Obama não pudera comparecer retido em Washington por suas dificuldades com o Congresso. O terreno vinha sendo deixado livre para a China, e Xi Jinping não hesitava em fazer avançar seu país para a condição de segunda superpotência mundial, numa rivalidade contida e inteligente com os EUA. Um ano antes, numa cúpula dos BRICS em Durban (RAS), já fora a China determinante na decisão do grupo de fundar um Novo Banco de Desenvolvimento, que terá sede em Xangai; um capital inicial de 50 bilhões de dólares; e tenderá a suprir a crescente inoperância das instituições do Sistema de Bretton Woods para com os países emergentes. Em 2010, por exemplo, Barack Obama antecipou-se à situação de agora, e negociou uma proposta para aumentar o peso da China no FMI e no Banco Mundial. A proposta obteve o apoio da maioria dos 188 membros do FMI, mas continua bloqueada pelos conservadores do Congresso americano.

A sugestão de Xi Jinping para um Banco Asiático de Financiamento da Infraestrutura (BAII) veio em resposta a essa parálise do sistema de Bretton Woods. A 24 de outubro de 2014, representantes de 21 países asiáticos (com destaque para a Índia e Cingapura, aliados dos EUA) reuniram-se em Xangai para assinar o documento de criação do banco, atendendo às promessas da China de disponibilizar fundos para a abertura de estradas; edificação de pontes; e infraestrutura em geral, nas regiões pobres da Ásia. No quadro da ONU já existe um Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA), teoricamente para essas tarefas e tradicionalmente presidido pelo Japão. O peso do voto japonês no BDA é mais de duas vezes o peso do voto da China, e a instituição vem se mostrando tão ineficaz quanto o resto do sistema de Bretton Woods. Segundo cálculos do próprio ADB, seriam necessários investimentos em torno de 8 trilhões de dólares, até 2020, para sanar as deficiências de infraestrutura da Ásia, mas o capital de base do ADB é de 160 bilhões de dólares e o do Banco Mundial, 223 bilhões. Em contraste, o Presidente chinês observou, em pronunciamento recente, que a China está preparada para investir mais de 640 bilhões de dólares, em outros países, nos próximos cinco anos.

O BAII só deverá começar a funcionar em fins de 2015, concebido de maneira a que a China detenha a liderança financeira. Como comentou a Bloomberg, a China, após assenhorear-se de fatia crescente dos recursos naturais mundiais e ver suas exportações e investimentos expandirem-se mundo afora; frustrada também nas tentativas de reformular as instituições financeiras internacionais existentes para que reflitam o novo formato da economia global, a China começa a utilizar seus enormes ativos financeiros para criar instituições internacionais de credito aptas a catapultar sua influência econômica para mais perto das arenas política e diplomática, num momento em que aliados dos EUA desafiam Washington, apoiando iniciativas chinesas.

No caso do BAII, com efeito, por mais que os EUA tenham feito campanha, desde o início, contra adesões ao mesmo, elas não pararam de crescer. Em março de 2015 já eram 40 os signatários, destacando-se amigos dos EUA como a Tailândia e a Nova Zelândia; a Austrália e a Coréia do Sul estudavam seriamente aderir. Mas foi a adesão da Grã-Bretanha, levando consigo a Alemanha e a Itália, que, sobretudo alarmou os EUA. O Secretário do Tesouro explicou, sem sorrir, a oposição americana ao BAII “por não haver garantia de que a nova instituição cumprirá os mais elevados padrões mundiais de governança”. Ao que comentaristas como Martin Wolf, do Financial Times, lembraram comportamentos “elevados” do Banco Mundial do tipo do financiamento do ditador africano Mobutu Sese Seko. O Presidente Barack Obama foi mais honesto ao acentuar, no seu discurso sobre o Estado da União, a urgência de tirar do papel a Parceria TransPacífica (entre os EUA, o Japão e outros dez países), a fim de “não deixar a China livre para escrever as regras na região mais próspera do mundo” (…) “Cabe a nós estabelecer essas regras” – frisou ele.


Créditos de imagem: huffpost.com

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