Em começos de novembro de 2012, Barack Obama foi reeleito Presidente dos EUA. Uma semana depois, mudava na China o Secretário-Geral do Partido Comunista (PCC), já na expectativa de sua nomeação para Presidente em março seguinte. Estavam assim definidas as duas chefias a que incumbiria conduzir, no curto prazo, o diálogo político-estratégico EUA-China, de que me estarei ocupando nesta coluna. Obama logo frisou sua seriedade em implementar o “pivô” para a Ásia-Pacífico, proclamado em janeiro de 2012, partindo para um giro pelo Leste Asiático duas semanas depois da reeleição. Em marcado contraste com a atenção dada ao Oriente Próximo, no começo do primeiro mandato.
Xi Jinping, o novo SG do PCC e Presidente da China, não chegou a esses postos através de algum tipo de eleição reconhecido no Ocidente. Mas tampouco por meio de algum conluio palaciano. Os sete membros do Comitê Permanente do Birô Político, o colegiado que governa a China e no qual se alinham o SG/Presidente, o Primeiro Ministro, o Chefe do Legislativo e outros dirigentes de ponta, chegam ao topo construindo uma folha de serviços ao Partido e ao Estado, continuamente referendada pelos pares sob a forma de promoções. Foi Deng Xiaoping que institucionalizou o formato de governo da “geração”, criando limites de idade e durações de mandatos para os diversos escalões partidários. São poucos os quadros que fazem sua ascensão por esses escalões a tempo de chegar ao topo. E uns raros se distinguem, ainda cedo, como candidatos à liderança suprema. Xi Jinping e o atual Primeiro Ministro, Li Keqiang, entraram para o Comitê Permanente na metade do mandato da Quarta Geração, com a idade certa de candidatos potenciais para liderar a Quinta Geração. Vai-se tornando de uso este período de polimento final dos presumidos dirigentes. Xi Jinping foi Vice-Presidente na Quarta Geração, realizando bem calculadas viagens ao exterior. Esteve, por exemplo, no Brasil, e foi conhecer Barack Obama ainda no primeiro mandato do mesmo.
Foi, pois, um líder perfeitamente sacramentado e bem preparado que, três meses após chegar à Presidência, dispôs-se a ir acertar os ponteiros com o Presidente americano. Num encontro extremamente informal (7-8.06.13), no rancho Sunnylands, na Califórnia: oito horas de conversa entre os líderes; um jantar privado; e uma caminhada de 50 minutos somente com os intérpretes. O encontro fora precedido, porém, de cuidadosa preparação entre Tom Donilon, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA e Yang Jiechi, calejado ex-Ministro do Exterior, que Xi Jinping promoveu a Conselheiro de Estado e Assessor Especial seu para assuntos de política externa. Não vazaram indicações de progressos concretos no contencioso EUA-China, mas os analistas dos dois lados puseram ênfase no clima de real compreensão que marcou o encontro e nas evidências de boa química entre os dois Chefes de Estado. A mídia oficial chinesa frisou o fortalecimento do propósito que tem sido expresso por Xi Jinping, de “caminhar para um relacionamento de novo tipo entre as superpotências”.
Para dar cor ao diálogo em curso, vale registrar os percalços que as próprias contradições internas americanas estão opondo aos planos de Obama. Citei acima o giro que ele efetuou por países vizinhos da China, mal foi reeleito. Lembre-se também o entusiasmo com que associou ao “pivô” o revigoramento da idéia da APEC, transformada numa Parceria Transpacífica (PTP). Esse ímpeto foi esmaecido agora em outubro. Preso em Washington pelo embate com os republicanos em torno da dívida americana, Obama não pôde comparecer à assembléia da APEC na Indonésia e à reunião da ANSEA, no Brunei. Xi Jinping brilhou nos dois eventos, marcando pontos diplomáticos e econômicos entre os dez países do Sudeste Asiático.
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