Em Conjuntura Internacional, Destaques

O cientista político Robert Gilpin chama a atenção (War and Change in World Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1981) para a tendência, de países em vias de tornarem-se potências, a buscar expandir sua influência sobre os ambientes político, econômico e territorial em que lhes é dado existir. Através da história, as grandes potências cuidaram sempre de proteger seus interesses em expansão. É perfeitamente compreensível, por exemplo, que a China busque intensificar relacionamentos bilaterais em áreas geográficas distantes (a África, a América Latina), com vistas a proteger suprimentos de energia e matérias primas que lhe são cada vez mais necessários. Compreende-se, mais especificamente, que Xi Jinping tenha aproveitado sua ida ao encontro com Barack Obama em Sunnylands, na Califórnia (7.06.13), para estreitar relações com vários países do tradicional backyard americano.

Ele simplesmente organizou sua viagem com paradas em Trinidad-Tobago, Costa Rica e México. Em Trinidad, a comitiva chinesa de 280 funcionários e empresários reuniu-se com oito chefes de governo caribenhos, acorridos expresso para o encontro, e deixou uma promessa de três bilhões de créditos para projetos diversos. A escolha de Costa Rica e México para as etapas seguintes foi vista pelos observadores como resposta às intervenções de Obama no entorno chinês, Mianmar em especial. Costa Rica e México não figuram entre os exportadores de commodities que a China tende a cultivar.  The Economist traduziu de forma direta a mensagem dessas visitas: “Assim como os EUA proclamam residência no Leste Asiático, a China sente-se apta a plantar sua bandeira na periferia dos EUA.” Desdobramento que já não provoca um levantar de armas nos EUA, onde o Secretário de Estado Perry declarou há pouco que a “Doutrina Monroe era coisa do passado.” Tudo, agora, é questão de cálculos estratégicos  e econômicos. Tanto Costa Rica quanto o México haviam sido visitados por Barack Obama no mês anterior. Um mês mais para trás fora o Presidente mexicano que estivera na China, para um fórum internacional. Ele mantivera, no entanto, conversações com Xi Jinping, e segundo constou, o Presidente chinês fez uma “oferta concreta” de aumentar as importações chinesas do México.

O Sudeste Asiático, organizado na ANSEA (Associação das Nações do SudEste Asiático), vai-se tornando a arena de um cabo de guerra entre Pequim e Washington. Foi sugestivo que, menos de três semanas após a reeleição, Obama se tenha deslocado para um segundo giro por países asiáticos, da ANSEA precisamente. Rápida parada na Tailândia para assinatura de novo acordo militar. Expressiva visita de Estado a Mianmar. Três dias no Camboja, a fim de participar de várias reuniões do sistema ANSEA e a oportunidade de conversar com o Primeiro Ministro chinês da época, que vinha repetindo as escalas de Obama. Em outubro de 2003, aliás, Wen Jiabao havia causado sensação formalizando a adesão da China ao Tratado de Amizade e Cooperação, peça magna da ANSEA, que desde 1976 estava aberta a países de fora da região, mas que a China foi a primeira a assinar. O gesto chinês precipitou as adesões da Índia e do Japão, e mais adiante dos EUA (o Brasil também já assinou). Li Keqiang, o novo Primeiro Ministro, comentou com jornalistas, em setembro de 2013, que as relações da China com a ANSEA estavam entrando numa “década de diamante”. E nesse mesmo mês de setembro, na cidade de Suzhou, a China conduziu conversações com a ANSEA, aliviando muito o contencioso em torno das ilhotas nos mares das costas chinesas.

Subregião do Sudeste Asiático a ser acompanhada com atenção é sua metade continental, onde se agregam Tailândia, Vietnam, Laos, Camboja e Mianmar. Há iniciativas em marcha que poderão aumentar a integração desses países até 2015, criando um mercado consumidor e de trabalho de mais de 300 milhões de indivíduos, na maioria budistas, para os quais se projeta um PIB conjunto superior a um trilhão de dólares na altura de 2020. As barreiras comerciais estão caindo nessa subregião, servida pelo Rio Mekong, e que é alvo da concorrência de investimentos americanos e chineses. Os EUA dotaram-se de um posto avançado de trabalho no Mianmar. Mas a China faz praticamente parte da grande área em desenvolvimento, através da província de Yunnan, que funciona como um outro país do grupo, com seus 50 milhões de habitantes, PIB de 150 bilhões de dólares e atividade econômica superior à da RPC.

 Créditos de imagem: arizonamun.org

Facebooktwitter