Em Conjuntura Internacional, Destaques

Eu esperava dedicar esta coluna a avanços que o Presidente Barack Obama pudesse ir obtendo em relação à Parceria Trans-Pacífica (PTP), ao longo do seu giro de abril pelo Japão, Coréia do Sul, Malásia e Filipinas.  Surpreendentemente, embora a imprensa internacional fosse registrando a passagem de Obama pelas capitais em causa, as notícias tratavam da crise na Ucrânia ou dos impasses na Coréia do Norte. Nada se dizia sobre a PTP, a não ser indiretamente, falando de manifestações populares contra ela. Uma incursão no Google trouxe surpresa maior. O silêncio sobre as conversas que pudessem estar havendo em torno da PTP –informava-se – era intencional: “A participação do Japão nesse acordo não será possivelmente dada a público, durante a atual visita de Obama, tendo em vista a oposição de representantes democratas no Congresso americano, para os quais o aumento do  livre-comércio traz o risco potencial de perdas de postos de trabalho nos EUA.” O descontentamento do Congresso com a PTP é, na verdade, antigo. Em maio de 2012, o Senador Ron Wyden (D-OR) apresentou projeto de lei requerendo do Escritório do Representante Comercial a distribuição, a todos os congressistas, dos documentos ligados à PTP. Segundo dizia o Senador: “A maioria dos congressistas vem sendo mantida no escuro quanto à substância das negociações da PTP. Enquanto isso, representantes de corporações dos EUA como Halliburton, Chevron, PHARMA, Comcast e a Motion Picture Association of America vêm sendo consultadas e informadas privadamente dos pormenores das negociações.”

O Google fornece amplo material, como tela de fundo para as mobilizações populares de protesto que acompanharam o giro de Obama. As maiores foram nas Filipinas, mas as mais articuladas aconteceram na Malásia, onde a imprensa e políticos juntaram-se ao coro anti-PTP. Os argumentos são os mesmos do Senador Wyden: “Seiscentos consultores de multinacionais negociaram e contribuíram para a PTP, mas os textos em elaboração são mantidos no desconhecimento do público, da imprensa e dos políticos.” “O nível de segredo que cerca os encontros onde se negocia a PTP é sem paralelo. Equipes de paramilitares cercam os locais e helicópteros os sobrevoam.” “Na sua essência, a PTP visa a abolir a responsabilidade financeira das grandes corporações nos países onde atuam, criando leis e regulamentos, segundo os quais os governos deverão reembolsar gastos das firmas em matéria de saúde, seguridade social e defesa do meio ambiente.

Na impossibilidade de registrar eventuais progressos obtidos por Obama, vou insistir um pouco na Malásia, onde o atual Primeiro Ministro, Najib Razak, muito pró-americano, é um entusiasta da PTP. Entre os observadores da cena malásia prevalece, porém, grande ceticismo quanto à adesão do país a esse projeto. Com seus 28 milhões de habitantes – 60% mulçumanos malaios ou aborígenes; 23% chineses; 9% indianos; mais alguns milhões de procedência diversa – a  Malásia destoa dos outros países do Sudeste Asiático por não ter um nacionalismo dominante, mantendo por exemplo boa compreensão das posições chinesas. Em outubro de 2013, em extensão da reunião da APEC em Báli (Indonésia), à qual Obama não pôde comparecer, o Presidente chinês Xi Jinping realizou visita de Estado à Malásia, preenchendo outra lacuna deixada por Obama. Além da proclamação de uma “aliança estratégica abrangente” entre a China e a Malásia, a visita de Xi rendeu um convênio econômico, que se propõe elevar as trocas entre os dois países a 160 bilhões de dólares até 2017. Digno de nota foi o reaparecimento de Mahathir bin Mohamad, o grande modelador da vida política malásia, conhecido por sua defesa intransigente do lema “a Ásia para os asiáticos”, e que durante a visita de Xi veio a público propor a criação de uma “Associação Cultural”, voltada para a recuperação do bom entendimento com a China da dinastia Ming, em torno do entreposto medieval de Malaca, no funil navegacional que liga o Oceano Índico ao Mar Meridional da China. Mais recentemente, Mahathir fez críticas diretas à PTP, na mesma linha já citada: “Trata-se de uma fórmula para os EUA obterem lucrativos contratos de fornecimentos aos governos associados, eternizando sua hegemonia na Ásia-Pacífico.”

Créditos de imagem: occupy.com

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