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Os índices de confiança dos agentes na economia, que vinham se recuperando após desabar em meados de 2013 com a onda de manifestações que se espalhou pelo país, inverteram o movimento e passaram a cair fortemente desde o início do ano. Não é fácil, todavia, justificar essa queda com base apenas na situação. Isso porque, se nos últimos meses nenhuma das variáveis centrais que afetam a lucratividade das empresas e a renda das famílias melhorou de forma expressiva, a maioria tampouco se deteriorou significativamente.
De fato, embora a um ritmo inferior ao do passado recente, as vendas no comércio, o volume de crédito e os salários continuaram crescendo. As taxas de desemprego se mantêm em níveis historicamente baixos. Os custos tributários em vários setores caíram e as taxas de juro, mesmo aumentando no último ano, são baixas em relação ao histórico do país. A inflação, apesar de flutuar acima do centro da meta para ela fixada, se situa em níveis semelhantes aos que vigoraram nos últimos anos. A taxa de câmbio, mesmo em patamar sobrevalorizado para muitos setores, permanece estável. A economia internacional, não obstante persistam agudas incertezas e alguns segmentos tenham sido especialmente afetados pela desaceleração argentina, vem se recuperando lentamente. Uma deterioração moderada dos índices de confiança não seria, assim, surpreendente, mas seu desabamento chama a atenção. Estariam os agentes excessivamente pessimistas?
Para responder, devemos notar que a queda forte e abrupta dos índices gerais de confiança que caracteriza esse pessimismo não se verificou, na mesma magnitude, naqueles índices ligados à experiência particular e concreta de cada agente. Isso pode ser visto, por exemplo, ao comparar o Índice de confiança do empresário industrial – ICEI/CNI em relação a sua própria empresa com o índice que busca captar a confiança desse mesmo empresário sobre a economia brasileira.
Se até o início de 2013 ambos os índices pareciam relativamente estáveis e flutuavam, como esperado, próximos um do outro, passaram desde então, e mais ainda em 2014, a se afastar, com o índice geral recuando significativamente mais que aquele que reflete as perspectivas das empresas e melhor espelha.
A mesma situação se verifica ao comparar a evolução do Índice nacional de expectativa do consumidor – INEC/CNI com a de um de seus componentes, o da expectativa de compras de bens de maior valor. Ambos evoluíam, também como previsto, de forma semelhante até meados de 2013. Desde então, contudo, enquanto o índice de expectativa de compras, que tende a melhor refletir a percepção do consumidor sobre sua condição objetiva, se manteve estável, o índice geral de confiança na economia, que traduz essa condição de forma muito mais imperfeita, caiu consideravelmente.
Estes exemplos revelam o afastamento entre, por um lado, os níveis de confiança captados pelos índices baseados em percepções e expectativas formadas com forte influência da experiência concreta dos próprios agentes e, pelo outro, a confiança capturada pelos índices agregados, que não possuem essa base e se apoiam em percepções e expectativas moldadas com a contribuição decisiva das análises e informações fornecidas pelos grandes meios de comunicação. Estes, especialmente nos últimos meses, têm projetado sobre o país um cenário de crise econômica aguda, como mostra o levantamento das manchetes sobre assuntos econômicos publicadas em 2014 até meados de agosto.
Tal cenário é amplamente difundido em um contexto que, se não é tão sombrio como o por ele projetado, tampouco é particularmente favorável, e, além disso, permanece carregado de incertezas, aguçadas ainda pela proximidade do processo eleitoral. Logo, não surpreende que mesmo com a maioria dos indicadores da situação econômica objetiva em níveis historicamente favoráveis, embora relativamente estagnados, os índices de confiança agregados desmoronem, traduzindo um pessimismo generalizado.
Em sua origem, tamanho pessimismo não possui bases reais sólidas e, por isso, é de fato exagerado. Todavia, sua permanência por um período prolongado é capaz, ao adiar as decisões de investimento e de consumo, de criar essas bases, justificando-o ex-post. O desafio da política, para evitar que isso ocorra, é o de apontar essa fragilidade, ao mesmo tempo em que busca solucionar os problemas reais que o alimentam.
Para leitura do texto integral, acesse aqui: http://bit.ly/1BNIS2g

Por Ernesto Pereira.


Créditos de imagem: hpcdobrecife.com.br

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