Em Destaques, Vida Nacional

“Bom dia, São  Paulo”,  programa jornalístico da TV Globo, divulga diariamente um retrato do precário cotidiano dos paulistanos.

As imagens são muito eloquentes: é a fila para a retirada de medicamentos;  a demora para ser atendido na rede de saúde;  a dificuldade para efetivar a matrícula escolar;  a insegurança nas ruas da cidade; a queima de ônibus; a superlotação nos transportes públicos; a pouca mobilidade do sistema viário; é o desperdício de recursos públicos.

Recente levantamento de opinião pública indica que os reclamos populares estão pautados por estes temas. O Ibope consultou cerca de 15 mil brasileiros para identificar os principais problemas do país. A pesquisa, patrocinada pela CNI e feita ao final de 2013, apontou: a saúde (58%); a segurança pública/violência (39%); as drogas (33%); a educação (31%); e, a corrupção (27%).

A insatisfação – e, mesmo, a ira – reinante nas grandes cidades é a base do apoio majoritário da população às manifestações de rua que se desenrolam desde Junho de 2013. Enquete do instituto MDA comprova: “A onda de protestos realizada pelo país tem o apoio de 81,7% da população, segundo pesquisa de opinião divulgada em 7/11/13 pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) em parceria com o instituto MDA”.

Mas esta simpatia pelo movimento das ruas não se transmite para aqueles manifestantes adeptos da tática Black Bloc. Segundo a mesma pesquisa MDA, não seria considerada legítima a adoção das táticas Black Bloc “no entendimento de 91,5% dos entrevistados, [… e] apenas 6,7% concordam que elas seriam válidas”.

Os acontecimentos de fevereiro – marcados por trágica morte – só fizeram reforçar a rejeição à ação dos grupos mais radicalizados (e parecem ter diminuído o respaldo popular às mobilizações de massas, de acordo com a pesquisa que o Datafolha fez no Rio de Janeiro, publicada em 16/2/14). E os setores conservadores do Parlamento tentaram aproveitar o conturbado contexto nacional para acelerar a tramitação de uma legislação antiterrorista que – se fosse aprovada – serviria para enquadrar boa parte dos movimentos sociais.

O debate e a votação desta lei foram adiados, estando prevista novas rodadas de discussão para esta semana (em clima de polêmica, em múltiplas arenas – das ruas ao Congresso Nacional – e atravessando as mais variadas mídias).

É certo, também, que o ritmo acelerado da conjuntura não deverá arrefecer no próximo período, pois, no plano social, setores que até aqui estavam em relativo silêncio (como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), passam a marcar ruidosa presença na cena nacional. E também por que, no âmbito político, mantém-se o clima de forte excitação, causada – entre outros fatores – pelas conflituosas  articulações partidárias ligadas à disputa eleitoral de 2014.

Este acirramento do quadro sócio-político é ainda acompanhado por aumento das incertezas no campo econômico: aqui, as notícias que em tempos de ‘normalidade’ seriam absorvidas tranquilamente, são ‘tratadas’ por parte da mídia como prenúncio de um ‘desastre’ inevitável que poderá ocorrer antes das eleições de outubro (ou no máximo em 2015).

Coroando o momento difícil, as ameaças reais começam a ser materializadas, a partir de declarações de autoridades econômicas norte-americanas apontando o Brasil como a segunda economia mais frágil entre os Brics (melhor apenas que a Turquia), justamente na véspera de o Brasil definir a meta do superávit primário para 2014, uma das  promessas feitas, em Davos, pela presidenta Dilma Rousseff.

Créditos de imagem: oglobo.com

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