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Por Redação

Em denso artigo, de imprescindível leitura, sobre o modus operandi das corporações econômicas, especialmente as transnacionais, em tempos do que Chasnais denomina globalização financeira, o prof. Ladislau Dowbor, passa em revista os principais domínios de interesse e as estratégias de atuação dos donos do mundo contemporâneo. Adverte que ”Olhar o século 21 pelas lentes do século passado não ajuda”. E faz, as duas diferenciações que a abordagem para a melhor compreensão do tema requer, a saber:

(a) “Quando pensamos o mundo da economia, pensamos ainda em interesses econômicos e mecanismos de mercado. A política, o poder formal, os impostos, o setor público em geral representariam outra dimensão. Não é nova a ruptura destas fronteiras, a penetração dos interesses de grupos econômicos privados na esfera pública.”

(b) “O que é novo, é a escala, a profundidade e o grau de organização do processo.” Enfatizando: “O poder corporativo tornou-se sistêmico, capturando uma a uma as diversas dimensões de expressão e exercício de poder, e gerando uma nova dinâmica, ou uma nova arquitetura do poder realmente existente”.

Ao longo do artigo o autor debruça-se sobre os principais vetores através dos quais as corporações ingerem e fazem prevalecer seus interesses estratégicos, conforme enumerados a seguir:

1 – Uma forma é a própria expansão dos tradicionais lobbies.

2 – A captura da área jurídica adquiriu imensa importância, e se dá por várias formas.

3 – Outro eixo poderoso de captura do espaço político se dá através do controle organizado da informação, construindo uma fábrica de consensos onde Noam Chomsky nos deu análises preciosas.

4 – Além dos think tanks e do controle da mídia, o controle das próprias visões acadêmicas avançou radicalmente nas últimas décadas, por meio dos financiamentos corporativos diretos, e em particular pelo controle das publicações científicas.

5 – Menos percebido, mas igualmente importante, é a oligopolização do controle das publicações científicas no mundo.

6 – A este conjunto de mecanismos de captura do poder temos de acrescentar a erosão radical da privacidade nas últimas décadas. Hoje o sangue da nossa vida trafega em meios magnéticos, deixando rastros de tudo que compramos ou lemos, da rede dos nossos amigos, os medicamentos que tomamos, o nosso nível de endividamento.

Feito o diagnóstico dos meios e procedimentos através dos quais as corporações capturam os diferentes espaços do seu interesse estratégico, o autor dedica a parte final do artigo a analisar a própria essência das grandes corporações – segundo estudo do Instituto Federal Suíço de Pesquisa Tecnológica, um tipo de MIT da Europa, 737 grupos apenas controlam 80% do mundo corporativo, sendo que nestes um núcleo de 147 controla 40%. Estes últimos gigantes são essencialmente (75%) grupos financeiros – que ordenam o mundo globalizado do século 21, e os mecanismos e instituições de que se utilizam.

Ao justificar o significado do estudo do escopo, dimensão e modus operandi das transnacionais, Dowbor finaliza alertando sobre a necessidade do estabelecimento de alguma forma de controle internacional sobre tais corporações, antecipando-se a reconhecer tratar-se de uma tarefa quase impossível:

A pesquisa e compreensão das novas articulações de poder são indispensáveis para se entender os mecanismos e a escala radicalmente novos de acumulação de riqueza nas mãos dos 0,01% da população mundial, e a espantosa cifra de 62 bilionários que são donos de mais riqueza do que a metade mais pobre da população mundial. Igualmente significativo é o fato da economia brasileira estar em recessão quando os bancos Bradesco e Itaú, por exemplo viram seus lucros declarados aumentarem entre 25% e 30% em 12 meses [25]. De certa forma, ao analisarmos os mecanismos de captura do poder, estamos desvendando os canais que permitem o dramático reforço da desigualdade entre e dentro das nações, além do travamento do crescimento econômico pelo desvio dos recursos do investimento para aplicações financeiras.

Restabelecer a regulação e o controle sobre estes gigantes financeiros que passaram a reger a economia mundial e as decisões internas das nações é hoje simplesmente pouco viável, tanto pela dimensão, como pela estrutura organizacional sofisticada de que hoje dispõem, além evidentemente dos sistemas de controle sobre a política, o judiciário, a mídia e a academia – e portanto a opinião pública – conforme vimos acima. A dimensão internacional aqui é crucial, pois a quase totalidade destes grupos é constituída por corporações de base norte-americana ou da União Europeia”.

Leia o artigo integral acessando o link: http://outraspalavras.net/posts/dowbor-como-as-corporacoes-cercam-a-democracia/

Outras Palavras [http://outraspalavras.net/]: 23/06/2016.

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