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Os maias são frequentemente chamados “atenienses do Novo Mundo”. E, por vezes, essa cultura é colocada em paralelo com a “civilização grega clássica”. Floresceu dos séculos III ao IX d.C., em especial na península de Iucatã, ao sul do México e na Guatemala.

 Mas, apesar de construírem largas e longas estradas, não conheciam a roda. Talvez porque na América pré-colombiana não existissem animais adequados para carga e tração.

Mas essa não é a maior incongruência. Arqueólogos, historiadores e antropólogos se mostram atônitos com uma cultura desenvolvida em artes, com escrita hierográfica, conhecimento elevado de astronomia e um dos mais perfeitos sistemas calendográficos da época, que pudesse ter prescindido da metalurgia.

Costumamos associar a própria agricultura à metalurgia, embora esta última quase sempre precedesse à primeira. A pedra e a madeira limitaram a humanidade a estágios  elementares de organização e expressão. Sem o cobre e suas ligas, e depois o ferro, não teriam sido possíveis o Egito, a Grécia e a própria China: E, no entanto, na Mesoamérica floresceram, a partir possivelmente de um substrato cultural comum (1590 a.C. até 100 d.C.), várias civilizações com base exclusiva no uso da madeira e da pedra. Isso só foi possível graças ao uso eficiente de duas formas de quartzo, o sílex e, principalmente, a obsidiana.

O sílex já fora na época pré-metalúrgica o esteio do esforço civilizador. Na Mesoamérica foi a obsidiana a primeira ferramenta, a primeira arma eficiente, produzidas com essa forma de quartzo parcialmente vitrificado em erupções vulcânicas. Machados, pontas de flecha e variados instrumentos de corte puderam ser feitos em abundância graças à propriedade do material de se fender naturalmente cm arestas e pontas agudas. Mas, ao contrário dos teoticianos, toltecas, méxicos e os posteriores astecas, os maias não eram guerreiros. Nem sequer conquistadores.

As cidades maias se ligavam culturalmente, compartilhando uma língua, um código hierográfico, religião e costumes sociais, mas nada indica a existência de um Estado maia. A ordem política era ditada pelo comércio, o sonho liberal. Vestígios dessa inclinação pacifista ainda são encontrados nos costumes dos dois ou três milhões de descendentes desse povo em suas vestimentas alegres, sempre floridas, em seus sorrisos espontâneos e na permanente solidariedade que extravasam pelo seu pródigo sorriso.

Créditos de imagem: wartawangt.wordpress.com


*Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo em 28/11/1991

 

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