Em Destaques, Vida Nacional

•• ‘[…], está saindo muita fumaça pelas frestas do comitê de reeleição. Franklin Martins e João Santana estão em guerra; Gilberto Carvalho discorda do monopólio de Rui Falcão; as facções do ‘Volta, Lula’ querem participar, agora que o grupo ficou no vácuo; Lula é pendular; Dilma, a candidata-esfinge. Que estaria pendendo para as teses de João Santana, que não são necessariamente as de Rui Falcão, essas mais próximas das de Franklin Martins, a quem Lula faz concessões”. (Valor Econômico, 25/6/2014). ••

A TENSÃO INTERNA • Nesta semana que passou, migrou para a imprensa o conflito interno da campanha pela reeleição. Declarações do ministro Gilberto Carvalho2, divergentes daquelas defendidas pelos demais articuladores políticos do governo, seriam apenas a ponta do iceberg…

Dois motivos estariam a impulsionar o conflito. A definição do caráter da estratégia de campanha eleitoral da Presidente seria um dos pontos de tensão. As opções oscilariam entre o estilo hard (o ataque frontal aos adversários) ou então o light (a defesa de propostas de governo para o período 2015/2018 e dos programas realizados pela gestão petista entre 2003 e 2012). O segundo motivo é a disputa por espaços na coordenação de campanha. E ambos precisam ser equacionados no curto prazo.

POLÍTICA ECONÔMICA, NERVO EXPOSTO • As polêmicas provocadas pelas entrevistas de Carvalho não foi episódio isolado. Outro fator de stress é a polêmica sobre o futuro da política econômica. Esta semana foram Antônio Delfim Netto e Ciro Gomes que bombardearam as linhas fundamentais desenvolvidas, nesta área, pelo governo atual.

.1. Delfim  Netto, que foi aliado do governo petista, “não economizou nas críticas”, disse o Jornal do Brasil, 24/6/2014:

– “A economia para 2014 está dada e deve ser relativamente fraca, com um crescimento ao redor de 1,5%” com a inflação no teto de 6,5%;

– “Para que [a economia retome um ritmo de expansão entre 3% e 4% em três anos] é fundamental que o Estado se torne bem mais eficiente, nem mínimo nem balofo. Nesse contexto, não dá mais para usar a política fiscal para estimular o consumo, como ocorreu nos últimos anos. O superávit primário deveria subir para a média de 2,5% do PIB ao ano, a fim de reduzir o patamar da dívida bruta dos atuais 58% para 45% do PIB em seis anos. E por que 45%? Esse número é relevante porque, se houver alguma necessidade de elevar os gastos públicos para puxar a demanda, há essa folga essencial”;

– Ele “ressaltou que o retorno da harmonia da política fiscal com a monetária, como havia em 2011, ajudará a reduzir os juros, “o que é muito importante para estimular os investimentos e ampliar a oferta”.

– “Um elemento essencial para estimular os investimentos no país é o governo intensificar o programa de concessões em infraestrutura […]: – ‘É preciso ter modicidade tarifária nos leilões, mas eles precisam ser feitos de forma que viabilize uma boa taxa de retorno dos projetos. E isso é coisa para profissionais e não para amadores de Brasília’. .

.2. Outro aliado governista, Ciro Gomes, também não aliviou. Ele ‘espera mudanças e mudanças profundas’ num eventual segundo mandato da petista. O Brasil não oferece mais confiança aos agentes econômicos de que os investimentos serão remunerados” (G1, 24/6/2014); sobre a mudança de ministro da Fazenda, Ciro afirmou: ‘Já devia ter mudado, lá atrás já devia ter mudado. No ano passado’.

.3. É possível interpretar toda esta movimentação como expressão de intensa disputa pela condução da política e da economia em um eventual segundo governo de Dilma Rousseff.

Por isso, enquanto aumenta o volume da crítica em público, também vão crescendo as transações de bastidores. A mais visível destas negociações relaciona-se à troca do ministro dos Transportes. Foi esta ação que viabilizou a incorporação de mais uma legenda partidária — o PR — ao bloco de apoio à reeleição da Presidente. Outros três partidos realizaram convenções nacionais e anunciaram apoio eleitoral para ela: o PROS, de Ciro e Cid. Gomes; o PSD, de Gilberto Kassab; e o PP, um condomínio com vários donos regionais. Conflitada, esta última legenda não conseguiu encerrar a contento a sua convenção (realizada em 25/6) e tema ficou pendente no Poder Judiciário, que  foi acionado para julgar a  sua legalidade.

STRESS POLÍTICO • São enormes as pressões no interior das coligações eleitorais, por conta daquilo que o cientista politico da FGV — Fernando Lattman-Weltman — classificou como  “insegurança dessa eleição”:  ‘O favoritismo da presidente Dilma é frágil’ (O Globo, 24/6/2014).

Assim, “o pragmatismo das alianças na reta final da pré-campanha surpreende com traições e associações entre políticos rivais, mas reflete a dúvida crescente sobre quem vencerá nas urnas”. O caso mais emblemático acontece no estado do Rio de Janeiro, mas o padrão reproduz-se em todo o território nacional.

O estabelecimento dos campos da disputa presidencial parece ter consolidado a polarização entre dois blocos — o favorável à reeleição, composto pela coligação PT—PMDB—PSD—PR—PDT—PCdoB—PROS (aguardando a decisão da Justiça sobre o PP); e o formado pelo PSDB—DEM—PTB—Solidariedade. Ambos, contam também com as divisões regionais do bloco adversário para ampliar os apoios eleitorais através destas dissidências.

Do festim, pouco restou para os demais candidatos à Presidência lançados à disputa pelas legendas do PSB/PPS, do PSC, do PV e dos demais micro partidos políticos.

Uma boa amostra do andamento da campanha está expressa no “conselho” dado pelo candidato Aécio Neves a possíveis dissidentes da chapa da reeleição: “ Eu digo: façam isso mesmo. Suguem mais um pouquinho e depois venha para nosso lado”. (Estadão, 25/06)

O momento, agora, é de aguardar o final do Mundial de futebol e de organizar as tropas de choque para os combates nos palanques e na mídia.

Enquanto “a bola rola”, alguns fatos do noticiário econômico passam sem muito comentário, mas podem ter reflexos importantes logo mais. Desses, a revisão do número do crescimento da economia dos EUA (queda de 2,9%) no primeiro trimestre e a demanda judicial da Argentina, nos EUA, contra os chamados fundos abutres (compradores de 10% da dívida podre do país vizinho), podem indicar problemas futuros, pois afetam negativamente dois dos mais importantes parceiros comerciais do Brasil.

Notas
1 Trecho de letra de samba-de-roda Batuque na cozinha, João da Baiana, regravado em 1972. Link:http://www.youtube.com/watch?v=UZBE5AeOQ0M&feature=youtube_gdata_player
2 Leia a entrevista: http://jornalggn.com.br/noticia/gilberto-carvalho-diz-que-pt-erra-no-diagnostico-sobre-insatisfacao-com-o-governo

Cr’editos de imagem: condistintosacentos.com

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