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A primeira vista a ideia de diversificar institucionalmente a universidade pública brasileira pode parecer para intelectuais reservistas uma espécie de golpe privatista. Algo forjado por inimigos da educação universal e possivelmente por aqueles que combatem ações afirmativas.

O fato é que a universidade pública brasileira hoje é, em si, um exemplo de baixa capacidade de inclusão. Para além do ingresso, que continua concorridíssimo, a universidade ameaça não incluir a sociedade em dimensões, talvez, menos visíveis. É o caso, por exemplo , da inovação. Embora essa seja objeto de indulgências e abluções declaratórias de compromisso, a universidade, seus grupos de pesquisa, pesquisadores docentes, enfim, são motivados a produzir intelectualmente muito mais pelo processo avaliativo das agências do que, propriamente, voltados para as dimensões econômicas, de interesse nacional dos resultados. Importava realizar a primeira sem se distanciar da segunda. Isso parece impossível. Não há motivação nascente nem pelas agências financiadoras e muito menos pela governança das universidades. A inovação segue como compromisso real de poucos voluntários que, por excelência acadêmica já estruturada, são capazes de criar novos modelos para a associação com empresas e projetos econômicos. Dados já conhecidos estabelecem uma desproporção entre a evolução da produção medida por publicações científicas em periódicos qualificados e a expressão econômica advindas da propriedade intelectual ou mesmo de projetos de inovação. No primeiro caso o país subiu, em 2013, dez posições em 20 anos, no segundo perdeu 17 posições de 2011 para 2013 (Índice Global de Inovação / OMPI e Insead).

É que a produção em periódicos, para além de rankings internacionais, é uma poderosa dimensão avaliativa da pesquisa e da pós graduação nacional. Combustível essencial para pesquisadores acadêmicos que fazem desses indicadores a governança para – institucional da pesquisa acadêmica.

Sabe-se que a universidade é, hoje, no Brasil, a mais relevante instituição que sustenta a inovação. Essas práticas, embora restritas às empresas, dependem do conhecimento que vem da universidade. Isso sem falar na formação de recursos humanos, essenciais para a inovação. Currículos desgovernados e antigos, ultrapassados pela conjuntura, fazem com que requisitos de competências e habilidades escapem das relevâncias, das mudanças e transformações dos ambientes que empregam. Antes os diplomados é que tem que ser transformados pelas empresas

Uma nova experiência institucional, de governança de perfil e de desempenho, na universidade brasileira é necessária e já está atrasada.

Sem novos modelos, exemplos e compromissos externos ao convívio acadêmico não será possível superar a conservação. Tão cara aos intelectuais reservistas, defensores do êxito já adquirido, a atual universidade deve ser repensada. Com calma, responsabilidade e novas práticas em pequena escala, novas experiências devem ser organizadas.

Diversos países nos deixam legado dessa forma de proceder. Na Inglaterra, por exemplo, não só foram mantidas as reputações das universidades tradicionais, quanto foi profundo seu processo de reestruturação e de transformação na gestão do conhecimento, da pesquisa, da extensão e da formação.

O título é homônimo de um famoso poema de Robert Frost. Faz bem pensar que as convicções muitas vezes não passam de um transtorno passageiro.


Créditos de imagem: trtes.jus.br

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