Em Destaques, Música

Dezoito anos foram tomados pelo Maestro Masaaki Suzuki e sua formidável Bach Collegium Japan para gravar as 200 cantatas sacras de Bach, que ocuparam 55 discos compactos (CDs), quase 60 horas de música. Não há na música mais importante conjunto de obras do que aquele das Cantatas Sacras de Bach. E eu diria, nem mais gratificante. É um imenso, incomensurável estoque de imaginação melódica, harmónica e estrutural.

Já nos anos 60, ainda na fase LP, várias tentativas de registro dessas cantatas ficaram no caminho. O mais prolongado e bem sucedido foi talvez o de Fritz Werner, que em pouco mais de 20 LPs (hoje reeditado em 20 CDs) continha 50 das mais exuberantes cantatas sacras de Bach.

Hoje, com a adição da contribuição de Suzuki existem, em catálogo, 6 séries completas e 2 ou 3 em progressão. Todavia, essa riqueza é recente. A primeira dessas coleções completa teve como regentes compartilhando as 200 cantatas, em 60 CDs, o grande mestre da interpretação da música barroca Gustav Leonhardt e o hoje onipresente Nikolaus Harnoncourt, dos anos 80 e que para muitos críticos ainda é a favorita. E isto apesar do conflito de estilos entre Leonhardt e seu antigo discípulo Harnoncourt. O primeiro favoriza os timbres característicos do barroco, os tempos moderados, a clareza, enquanto Harnoncourt prefere massas sonoras mais eloquentes, por vezes, quase sinfônicas. Leonhardt coloca Bach nos primeiros anos do século 18, enquanto Harnoncourt o puxa para fins desse século revolucionário. E é talvez esse contraste que torna essa coleção imprescindível.

O segundo conjunto completo é aquele dirigido por Ton Koopman, grande especialista da Música Barroca, excelente musicólogo e instrumentista de categoria ímpar. Discípulo de Leonhardt segue seu estilo camerístico. É a coletânea completa mais coerente e, do ponto de vista da fidelidade musicológica, a mais bem sucedida. Foram necessários dez anos para sua consecução.

Em contraste com Koopman, acaba também de ser editada a coleção dirigida por John Eliot Gardiner com seu imperdível Coro Monteverdi. Foi gravada em um único ano, o Ano de Peregrinação, em que Gardiner percorreu dezenas e dezenas de Igrejas, centros musicais, realizando esses concertos litúrgicos. Não se pode negar o profissionalismo desse grupo, mas a pressa com que foram feitas as gravações não serve bem a Bach. Os altos e baixos não chegam a comprometer o esforço hercúleo despendido.

Duas outras de importância menor, mas que, não obstante, apresentam adequadamente a música de Bach a preços módicos são aquelas dirigidas por Pieter Jan Leusink e Helmuth Rilling.

Várias outras coleções incompletas merecem menção: a começar por aquela dos anos 70 de Karl Richter com cerca de 80 cantatas, a de Karl Ristenpart com 28 e a de Helmut Winschermann com 13. Além dessas existem pelo menos 50 CDs com cantatas avulsas.

Todavia, vale mais a pena começar a coletar as brilhantes interpretações de Philippe Herreweghe, já com mais de 50 cantatas gravadas ou as de Kuyken, com 30 ou 40, este último um pouco seco para meu gosto.

Em resumo, a imensa disponibilidade atual de versões distintas das cantatas sacras de Bach, mostra o reconhecimento a que enfim alcançou esse imenso patrimônio cultural da música ocidental.

play

http://www.youtube.com/watch?v=1T3mOTq214w

Créditos de imagem: last.fm

Facebooktwitter