Em Destaques, Vida Nacional

“Vamos ter Copa, mas não vamos ter mais nenhum dia de paz até as eleições. São tantos interesses em jogo nesta antevéspera da Copa, […], que o direito de ir e vir está provisoriamente suspenso. Nada indica que […] as manifestações possam parar por aí. […]. Aonde querem chegar? Só espero que outubro chegue logo”.(Ricardo Kotscho, 16/5/14).

A chamada pré-campanha presidencial entra na fase decisiva, pois estamos caminhando para o fechamento das alianças que disputarão o pleito em outubro e nessa linha, no esforço para reeleger-se, Dilma Rousseff tem que gerenciar várias frentes de combate.

– No front eleitoral, o contra-ataque governista – iniciado às vésperas do 1º. de Maio – continuou: nesta semana, a ofensiva política através da propaganda partidária, que ocupou espaço em TV e rádio. A mensagem foi incisiva, convidando o eleitor a cotejar a qualidade de vida dos dias de hoje vis-à-vis as dificuldades vividas no passado. “Não podemos voltar atrás” foi o eixo da propaganda do PT (“não podemos deixar que os fantasmas do passado voltem e levem tudo o que conseguimos com tanto esforço”), insistindo que nós “todos queremos que o Brasil mude, mas não que dê um passo para trás [com Aécio Neves…] e nem um salto no escuro [com Eduardo Campos…]”. A oposição reagiu e a Folha de S. Paulo (16/5/2014) registrou: o PT “assumiu um discurso de que é capaz de promover mudanças, mesmo estando há doze anos no poder”.

– No plano das alianças eleitorais, o governismo esforça-se para preservar a sua base partidária, ameaçada por defecções em diversas legendas: PMDB, PP, PSD, PR, PTB, PROS. O PMDB prepara sua convenção nacional e setores estaduais – Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará – ainda negociam o seu quinhão nas articulações regionais. No PROS, a partilha ministerial que Dilma fez no Verão ainda não foi assimilada e os descontentes seguem chantageando. A Presidente deve continuar sob pressão dos partidos aliados até que sejam definidas nos estados as candidaturas majoritárias e proporcionais.

– No âmbito do Congresso Nacional, a oposição anunciou para a terça-feira, 20 de maio, a instalação da CPMI da Petrobras, enquanto os governistas do Senado já colocaram em funcionamento a CPI sobre a mesma empresa, naquela Casa. O governo estaria apostando que a comissão do Senado – e a Copa do Mundo – poderiam esvaziar os impactos negativos que a oposição espera da CPMI.

Contudo, se o governo ainda pode definir a agenda nestas três áreas, em outras as suas formas de atuação são menos eficazes e os resultados adversos vão sendo acumulados. Destaquemos dois deles:

• No campo das reivindicações da população pela melhoria quali-quantitativa das política públicas, o governo viu-se acuado pela crescente onda de mobilizações: no início da semana, os conflitos concentraram-se em Pernambuco e no Rio de Janeiro; na quinta-feira, 15/5, protestos de rua movimentaram mais de uma dezena de cidades; e, na sexta feira, novas turbulências em Goiânia, Florianópolis, Guarulhos/SP. Três foram os temas que se destacaram nestas manifestações: (a) As greves salariais pipocam pelo país, afetando principalmente os serviços públicos de segurança, transportes, educação, etc; (b) O tema da moradia foi outro motivo mobilizador; e, finalmente, (c) Os comitês que organizam protestos públicos dos insatisfeitos com a organização e realização do Mundial de Futebol de 2014 no Brasil, aproveitaram o momento propício. O conflito nas ruas tumultua o cotidiano dos moradores da urbe, desgastando a imagem de governos e de manifestantes.

• Na esfera da gestão governamental, a equipe de Dilma segue explicitando divergências, embora precise demonstrar unidade de propósitos para evitar turbulências na economia. Na semana que passou, dois foram os novos episódios: (1º.) Ministros em posições estratégicas (Aloizio Mercadante/Casa Civil e Guido Mantega/Fazenda) assumiram posições conflitantes sobre o uso do controle de preços administrados para comprimir a inflação, prática usada à exaustão desde 1930, como bem lembrou Janio de Freitas em sua coluna dominical; (2º.) Outro governista importante, o presidente do PT, Rui Falcão, também contribuiu para o imbróglio no setor econômico, preconizando mais rigor no controle de capitais que ingressem no país, a partir de 2015.

Dilma tem problemas, é certo, mas a oposição também vai precisar administrar algumas questões que até aqui puderam ser contornadas. A principal delas é a diferenciação entre tucanos e socialistas, que não mais poderão operar juntos na disputa eleitoral. Como consequência, alianças concertadas nos estados (como Minas Gerais e Pernambuco) começam a ser rompidas e candidaturas próprias já estariam em andamento, ao mesmo tempo em que PSDB e PSB passaram a trocar, entre si, farpas e críticas políticas.

O fim do Outono trará as convenções nacionais dos partidos, com a melhor definição do quadro político e o início oficial das campanhas eleitorais. Até lá, teremos instabilidade política, tendo pela frente a perspectiva de um cálido Inverno.

Créditos de imagem: varelanoticias.com.br

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