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As pesquisas de opinião eleitoral indicam que Dilma Rousseff luta contra fortes tendências adversas que poderão dificultar muito sua reeleição à Presidência.

O primeiro indicador é a taxa de eleitores que manifestam desejo de mudança nos rumos do governo federal: 79% (ou seja: quatro em cada cinco!).

O segundo índice é a taxa de aprovação positiva (a soma dos conceitos ‘ótimo e ‘bom’) atribuída à sua gestão: apenas 36% do eleitorado aprovam o governo.

O terceiro dado é a taxa de rejeição à candidatura Rousseff: 31%, a mais alta entre 11 candidatos.

O quarto número refere-se à pequena diferença entre as três taxas de intenção de voto registradas para a Presidente: intenção espontânea (31%); intenção estimulada (37%); e intenção de voto em eventual segundo turno (39%). Somente oito pontos percentuais separam a diferença de intenções de voto entre o piso (31%) e o teto (39%).

Dilma demonstrou, até aqui, uma resiliência eleitoral consistente: há quinze meses — desde os idos de junho de 2013 — as suas taxas de intenção estimulada de voto, registradas nas enquetes do Datafolha, nunca foram inferiores a 30%.

Contudo, limitada a esta performance, parece que a Presidente não terá votação suficiente para reeleger-se. É por isso que a campanha de Dilma concentrou-se em apontar as contradições entre o discurso atual e a trajetória política de Marina Silva, buscando a erosão da imagem e da credibilidade da adversária (fato agravado ainda mais pela fragilidade do bloco partidário que a apoia na disputa pela Presidência).

A ofensiva estratégica dos petistas parecia caminhar com sucesso, pois Marina ficou durante toda a semana paralisada na defensiva, tentando aparar os variados golpes que ia recebendo (inclusive os de Aécio Neves).

A mídia anunciava que a campanha de Dilma ensaia pregar em Marina as pechas de anti-nacionalista e de anti-Estado, por causa do seu programa de governo que expressa a intenção de manietar o setor público bancário e que não prioriza o Pré-Sal.

Mas o quadro de conjuntura parece alterado com a delação premiada que Paulo Roberto Costa vem fazendo — desde quinta-feira, dia 4.

O noticiário do final da semana nos dá uma noção do caráter bombástico do fenômeno. Sumariamos o material divulgado por diversos veículos: Paulo Roberto Costa (preso na Operação Lava Jato) tem prestado informações ao Judiciário. Nesses depoimentos, teria citado nomes  de executivos de grandes empresas e de empreiteiras, além de políticos influentes do PP, PMDB e do PT. Esses políticos recebiam repasses dos contratos firmados pela Petrobras. O ex-diretor da Petrobrás — que ocupou o posto de 2004 a 2012 — teria citado de 30 a 70 deputados, senadores e governadores de cinco partidos políticos que foram ou são da base governista; eles teriam recebido 3% de comissão sobre o valor de cada contrato da Petrobrás firmados durante a gestão de Paulo Roberto Costa na estatal (Paulo também teria revelado que parte do corpo técnico da estatal ‘está na folha de pagamento de empresas fornecedoras da Petrobras’).

A avaliação no PT é que este depoimento pode criar forte desgaste na campanha de Dilma Rousseff. O que temeriam integrantes da campanha da Presidente é que haja vazamento do conteúdo antes da eleição, com denúncias sobre a existência de caixa dois de campanha e do financiamento de políticos aliados.

Se a morte de Eduardo Campos abriu espaço político para a entrada em cena de quem estava praticamente fora da partida — Marina Silva —, os novos fatos, agora trazidos ao proscênio político nesta reta final de primeiro turno, abrem as portas do inferno para quem já estava a enfrentar uma dura batalha pela reeleição.

Os efeitos desse evento, bem como seu manejo pelas coligações em disputa, serão a tônica dos próximos dias, pois atinge diretamente as duas candidaturas (Dilma e Marina), com a citação pelo delator do nome do falecido ex-governador e candidato Eduardo Campos como um dos beneficiários, que caminhavam para a disputa de um segundo turno “apertadíssimo”.

A definição do quadro eleitoral dependerá do fluxo de informações sobre a delação do ex-diretor da Petrobrás, pois fica evidente, com o material até aqui tornado público, que o vazamento foi seletivo e apresenta forte conteúdo eleitoral.

Aguardemos, pois.


Créditos de imagem: arede.info

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