Em Conjuntura Internacional, Destaques

O ano de 2017 assistirá a importantes mudanças nas cúpulas governamentais de EUA e China. Nos EUA, somente depois das eleições presidenciais de novembro próximo vai ser possível saber quem será o novo Presidente.  Na China, embora pareça certo que a Quinta Geração de dirigentes receberá um novo mandato, no Congresso Nacional do PCC em 2017, acontece que cinco dos atuais sete membros do Comitê Permanente do Birô Político terão atingido a idade de aposentadoria. Os dois restante (Xi Jinping, Secretário-Geral do partido e Presidente da República; e Li Keqiang, Primeiro Ministro), dados até agora como seguros de sua recondução, têm entrado ultimamente em atritos, levando a que se ponha em dúvida a permanência de Li Keqiang. O fato é que Xi Jinping tende a centralizar sob seu controle todas as atividades-chaves do país, inclusive a direção da economia, tradicionalmente um feudo do Primeiro Ministro. Ao ser empossado na chefia do partido, Xi assumiu rapidamente o comando da Comissão Militar Central, e mais adiante tomou a direção de  comissões  por ele criadas: um comitê para coordenar “reformas abrangentes”; outro para supervisionar as agências de segurança; e ainda um terceiro para cuidar das finanças do Estado.

Xi é reconhecido como um “principezinho”, nome que se dá na China aos filhos de próceres da primeira geração de dirigentes da República Popular da China (RPC). Mas é mais precisamente um membro da “segunda geração vermelha”, aqueles cujos pais não apenas ocuparam postos de importância, como fizeram parte do grupo menor de líderes revolucionários. O Exército de Libertação Popular (ELP) é um reduto de quadros da “segunda geração vermelha”, e Xi tem buscado estreitar contato com o grupo. Nos primeiros dois meses deste ano, nomeou mais de cinquenta deles em substituição a velhos comandantes. Xi foi desde jovem muito próximo do ELP, sendo casado com uma general de brigada, famosa como cantora de hinos militares. Xi não perde, porém, o cuidado com a superioridade do político sobre o militar, e numa reunião em fevereiro, com antigos e novos oficiais, exortou a submissão absoluta do ELP ao partido. Se bem sucedido nos seus esforços por elevar a China à posição de a superpotência alternativa aos EUA, através – como salientou em artigo a americana Elizabeth C. Economy – da intensificação do comércio e dos investimentos externos da China; da criação de novas instituições internacionais como o Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura; e do fortalecimento militar, Xi poderá também tornar real o seu Sonho de uma economia robustamente apoiada no mercado, mesmo se com forte presença do Estado. De um sistema político reformado, livre de corrupção e liberado também da tradição de governança coletiva. Enfim, um sistema político centralizado em que ele estará à frente como o líder supremo. Essas expectativas serão ou não confirmadas, quando o Congresso Nacional do partido ocupar-se, em outubro ou novembro de 2017, da renovação do Comitê Central e instâncias ao mesmo subordinadas. Um período de intensas barganhas no seio  da cúpula partidária abriu-se em agosto último, nos famosos conciliábulos na praia de Beidaihe, visando à seleção dos candidatos.

Passando aos EUA, cabe reiterar a incerteza sobre quem estará governando o país no lustro 2018-2023, em rivalidade com a Quinta Geração chinesa, no seu segundo mandato. A possibilidade de uma desastrosa presidência Trump não está descartada, colocando em dúvida –  conforme vaticina a maioria dos economistas – a recuperação da economia americana, com efeitos negativos mundo afora inclusive o Brasil. A eleição alternativa de Hilary Clinton não será necessariamente melhor para o mundo, tendo em vista as inclinações imperialistas dessa candidata. O que parece provável, qualquer seja o vencedor, é o abandono de importantes conquistas da Presidência Obama, como será o caso com a Parceria TransPacífica (PTP). Em fins de 2015, após cinco anos de esforços, Obama obteve a assinatura de 12 países da Ásia-Pacífico para um acordo comercial, complementar à decisão de transferir para essa região o centro estratégico dos EUA no continente asiático (o chamado “pivot”), mas ainda não conseguiu a ratificação do pacto pelo Congresso americano. Medida que se está tornando cada vez mais problemática, diante da oposição da corrente de Trump a acordos comerciais, e a um posicionamento anti-PTP a que está sendo pressionada a própria Hilary, defensora da parceria quando Secretária de Estado. Na visão de Obama, a PTP deveria servir também como medida de contenção da China, que não foi convidada para as negociações. Em revide, Pequim está promovendo entre seus vizinhos um outro acordo, vedado aos EUA. As implicações geopolíticas negativas de tudo isso foram deixadas claro, num discurso do Primeiro Ministro de Cingapura, em recente visita a Washington.  Acentuou Lee Hsien Loong: “Para os amigos e parceiros dos EUA, a ratificação da PTP é uma prova de fogo da credibilidade e seriedade de propósito do governo americano.”

Facebooktwitter