Em Conjuntura Internacional, Destaques

No dia 28 de março de 2017, cercado de mineiros de carvão e representantes da indústria carbonífera, Donald Trump assinou com estardalhaço decreto instruindo o chefe da EPA (sigla inglesa da Agência de Proteção Ambiental) a revisar o Plano de Energia Limpa (PEL), o principal legado de Barack Obama na área ambiental. Trump explicou estar fazendo isso para promover a “independência energética” dos EUA e recuperar os empregos na indústria americana dos combustíveis fósseis, desaparecidos em consequência das políticas do Governo Obama. Puro faz de conta, uma vez que o PEL fora suspenso pela Suprema Corte, em fevereiro de 2016. A redução das emissões de efeito estufa provenientes do uso do carvão na geração de eletricidade fora determinada por Obama em agosto de 2016, mas logo sofrera forte resistência da parte de 27 Estados da Federação, liderados pela Carolina Ocidental e pelo Texas, respectivamente o maior produtor de carvão e o maior produtor de petróleo, nos EUA. Na prática, Trump abraçou agora as reivindicações das forças interessadas no desmantelamento do PEL, levando ainda mais para trás as disposições do governo americano no tocante ao combate ao aquecimento global. Conforme registram os jornais, ele eliminou a proibição da concessão de terras federais para a construção de novas usinas de carvão, bem como normas que reduziam as emissões de metano na produção do petróleo e gás natural. Encomendou, ainda, às agências federais a revisão das regulações e políticas que controlam o uso dos recursos energéticos dos EUA.

O declínio da indústria do carvão nos EUA (o gás natural estará superando o carvão neste ano de 2017), bem como a forte redução ali dos empregos na exploração   dos combustíveis fósseis, longe estão de refletir as razões alegadas por Trump. Os fenômenos em apreço são fruto do jogo econômico global. The Economist (01.04.17) ocupa-se do assunto. Lembra como a Ásia, responsável por dois terços da demanda mundial do carvão, entrou num processo de redução do seu uso. Tirando o Japão, que ainda pensa substituir o nuclear por um “carvão limpo”, toda uma série de países, da China e Índia até a Austrália, vêm cedendo a duas novas tendências. Há primeiro o fato de que a demanda de eletricidade está desorientada, subindo ou descendo mais do que o esperado, com forte impacto financeiro sobre as usinas que queimam carvão. Acontece, além disso, que a maioria dos países está sendo levada a buscar fontes alternativas de energia para reduzir a poluição ambiental e a emissão de gás carbônico. A tendência tem sido em favor das energias renováveis, cujos custos vêm baixando, tornando-as competitivas com o carvão.

Complementarmente às medidas em favor do uso continuado do carvão, Donald Trump atacou a política dos governos anteriores, relativamente às mudanças do clima. Trump deu a público (16.03.17) sua primeira proposta de orçamento, pondo ênfase no aumento dos gastos militares e com a segurança interna. “Não vamos mais gastar dinheiro no combate às mudanças climáticas. Achamos isso um desperdício de fundos.” Em termos práticos, Trump suspendeu as contribuições dos EUA para o Fundo Verde para o Clima, criado pelo Acordo de Paris. Os EUA haviam-se comprometido com uma contribuição de 3 bilhões de dólares, dos quais 1 billhão chegaram a ser pagos. Correspondência de O Estado de S. Paulo (17.03.17) assinalou que, enquanto o projeto de orçamento registrava um aumento de 10% (54 bilhões de dólares) para os gastos militares, um corte de 31% atingia o programa de energia limpa, cortando recursos para
pesquisa e desenvolvimento no setor; pondo fim a várias iniciativas de conservação ambiental; e reduzindo de um terço o financiamento do fundo responsável pelo financiamento de alterações perigosas. Na condição de segundo maior poluidor mundial, atrás apenas da China em termos absolutos, os EUA mantêm-se à frente como os maiores poluidores per capita, apesar de a geração de empregos na área da energia solar haver superado, em 2016, as vagas existentes na exploração do petróleo e gás natural. Além da Califórnia, com o seu objetivo de reduzir de 40%, até 2030, suas emissões de gases poluentes, pelo menos 29 outros Estados da Federação dotaram-se de metas para a redução das emissões. Conforme conclui Rodrigo Lima (VALOR, 10.03.17), essa abordagem regional poderá ser, nos EUA, o caminho para a boa solução desses vários problemas. E como acentua The Economist (26.11.16), a análise profunda dos fatos deixa entrever que um futuro verde continua possível para os EUA e o mundo em geral. Distingue-se aí a China, com seus programas levados a sério de redução das emissões de dióxido de carbono; de limpeza da atmosfera; de reflorestamento; e de tornar-se o país líder do século XXI em tecnologias como painéis solares e veículos elétricos. No mesmo dia em que Trump divulgou seu orçamento tão negativo, o Presidente chinês Xi Jinping plantou árvores em Pequim e declarou seu governo plenamente de acordo com o Acordo de Paris sobre o clima. Falando mais tarde a jornalistas, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores insistiu: “Independentemente de outros países se comprometerem ou não com esses objetivos, a China está determinada a alcançar as metas do Acordo.”


Imagem: http://blog.bluesol.com.br/

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