Acaba de ser anunciada pelas agencias internacionais de notícias a conclusão de um acordo preliminar envolvendo o Irã e o Grupo do P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha) sobre o uso da energia nuclear pelo país Persa.
O programa nuclear iraniano pode ser dividido em dois momentos. O primeiro quando nos anos 50, sob o governo de Xá Reza Pahlavi, teve seu início e foi apoiado pelos EUA, inclusive com assistência técnica deste país, no âmbito da iniciativa Átomos para a Paz. O segundo corresponde aos anos que se seguiram à Revolução Islâmica (1979) que conduziu à criação da atual República Islâmica do Irã, quando as autoridades do país decidiram exercer o seu direito à posse da tecnologia nuclear para fins pacíficos, enfrentando para isso forte oposição dos EUA e de seus aliados que alegam intenções iranianas de produzir armas atômicas.
Desde que foram iniciadas, em 2006, as negociações entre o Irã e o P5+1 registraram poucos progressos significativos. Isto porque as exigências das potências ocidentais são encaradas pelo Irã como abdicar de parte da sua soberania e do seu direito de domínio do ciclo nuclear, renunciando a dispor de capacidade para a produção de urânio levemente enriquecido (abaixo de 20%) no seu território. O Irã que é estado-membro da Agência Internacional de Energia Atômica (IEA) e signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear recusa-se a aceitar as restrições impostas pelos EUA o que se vem traduzindo em constantes e sucessivos impasses nas negociações cercadas naturalmente de desconfiança dos dois lados. A proposta russa de enriquecimento fora de território iraniano tampouco prosperou. Enquanto não se vislumbrava um acordo plausível na ótica ocidental, EUA e União Europeia vêm liderando um forte cerco econômico e comercial ao Irã o que tem impactado fortemente sua economia.
O presente acordo deve ser encarado sob pelo menos três perspectivas: a) mudança na liderança iraniana, com a posse de Hassan Rohani, como sétimo presidente do país, considerado um moderado e aberto ao diálogo nas relações internacionais; b) a crescente influência da República Islâmica do Irã no conturbado Oriente Médio o torna, queiram ou não os seus arqui-inimigos, EUA e Israel, um interlocutor imprescindível na resolução dos conflitos regionais; c) a necessidade percebida pelos EUA de se acercar do irã como forma de reduzir a crescente influência exercida pela Rússia no equilíbrio regional, cujo exemplo mais emblemático está sendo a neutralização da ameaça norte-americana de ataque militar ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad.
Independentemente do grau de entendimento e da profundidade e mesmo do alcance do acordado entre o Irã e o P5+1, em termos práticos, , , para o presidente norte-americano Barack Obama, esse resultado equivale a uma verdadeira tábua de salvação da sua imagem, turvada por conta da sua desastrada política internacional, em especial para o Oriente Médio.