Em Destaques, Vida Nacional

Lula foi entrevistado por blogueiros, no início da semana que passou, num esforço do governismo para recuperar a iniciativa da agenda política. Mas, premido por renovadas ondas de notícias negativas (a inflação – IPCA – ascendente, o imbróglio na Petrobras, o affaire André Vargas, a renúncia de Gim Argello à candidatura ao Tribunal de Contas da União), o governo federal encerrou o período semanal na defensiva, aguardando a deliberação do Supremo Tribunal Federal a respeito da instalação da CPI da Petrobras e também no aguardo dos esclarecimentos do deputado André Vargas para as comissões de Ética do PT e da Câmara dos Deputados. 

 A economia merece destaque: os preços seguem inflados (especialmente de comida e de serviços), alimentando a ira do eleitor. As projeções econômicas para o ano de 2014 trazem um viés de baixa para o desempenho do PIB, pois parece que o ciclo de consumo está arrefecendo (assim, além do FMI e do Banco Mundial, desta vez foi a Confederação Nacional da Indústria que reduziu as projeções anuais, cravando uma estimativa de expansão do produto interno de 1,8%). Além disso, continuam as investidas da imprensa internacional contribuindo, ainda mais, para acirrar o clima de pessimismo. Uma das poucas perspectivas positivas, apesar de incipiente, também vem de fora, a partir das manifestações sociais ocorridas na Europa (Bruxelas e Roma) contra as políticas econômicas de austeridade aplicadas naquele continente no enfrentamento da crise iniciada em 2008, que provocaram sensível piora das condições de vida da maioria da população. Vale lembrar que o ideário contestado no continente europeu é defendido com veemência pela oposição no Brasil.

 O conflito político em torno da Petrobras vai ficando mais intenso e perigoso, seja na esfera das investigações da Polícia Federal, seja no campo do Poder Legislativo, ou ainda na área judicial. E o caso André Vargas é mais um foco de sangramento moral do Partido dos Trabalhadores, legenda partidária que consegue manter uma expressiva preferência junto ao eleitorado (cerca de 1/4 dos entrevistados do Ibope afirmam isto), mas cuja reputação está sendo fortemente atingida desde os idos de 2005.

 Os analistas políticos – escorados nas enquetes de opinião eleitoral e nas interpretações referentes aos dissabores diversos que têm perturbado os esforços pela reeleição da presidente Dilma – passam a acreditar que o processo eleitoral de 2014 será caracterizado pela maior fragmentação partidária do voto e que por isto deverá desembocar em uma disputa em dois turnos. E arrematam: somente a incompetência política das oposições poderia alterar esta rota…

 Oficialmente a campanha eleitoral ainda não começou, aguardando o mês de junho e a realização das convenções partidárias que deverão confirmar os nomes de Dilma, Eduardo, Aécio, Everaldo, Randolfe, e outros. Mas os pré-candidatos estão operando livremente, articulando apoios políticos (regionais e partidários), correndo atrás de financiadores de campanha e empenhados na conquista de mentes e de corações, nas ruas e nas mídias.

 Finalmente, os contornos do difícil quadro de conjuntura completam-se quando também registramos os gemidos dos excluídos da afluência – como, por exemplo, os pobres do Rio de Janeiro, que invadiram imóveis desocupados na urbe e foram desalojados pelo Estado, com muita violência. Ou então pelos que são humilhados e ofendidos, diariamente, nas filas dos serviços de saúde, no interior de trens e de ônibus, nas escolas abandonadas de subúrbios e de periferias e nas sempre inseguras e violentas ‘quebradas do mundaréu’ (copyright do ator-dramaturgo Plínio Marcos…). É a ‘ninguémzada’ – da qual Lima Barreto falava há um século – uma gente que ainda ‘tem a estranha mania de ter fé na vida’ e que aguarda a hora do voto para exercer o único direito pleno que conquistou, pois os demais direitos universais do cidadão (as cidadanias sociais e econômicas) – embora inscritas na Constituição de 1988, a ‘Constituição-Cidadã’ – ainda são miragens no cotidiano das imensas massas populares do nosso País.

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