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       ‘Há um certo ineditismo de fazer política no governo Dilma. Até então, havia  uma forma muito masculina de fazer política’, disse Ideli, ao lembrar que, até pouco tempo, dos seis principais cargos no governo, cinco eram ocupados por mulheres – em referência à presidente Dilma, a ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a ex-ministra de Comunicação Social, Helena Chagas, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e ela, Ideli”. (Blog do Camarotti). *

Dilma Rousseff parece ter concluído a reestruturação do ministério, após um longo processo de negociação (embora a crônica política especule que duas outras alterações poderiam acontecer neste mês de abril).

A nova equipe de governo não contempla algumas das demandas de empresários (que, por exemplo, desejavam ver Guido Mantega longe do Ministério da Fazenda, posto que ocupa há oito anos) e de aliados políticos (que queriam ampliar os seus espaços político-administrativos).

 Por falar na longevidade do Ministro da Fazenda no poder, vale lembrar sua destreza no manejo da política econômica no período agudo da crise econômica iniciada em 2008, quando, com medidas de estímulo ao consumo interno, conseguiu minimizar os efeitos da recessão global sobre a economia do País.

Porém, o quadro atual e o esperado para os próximos meses vão exigir novamente grande esforço do ministro para superar as expectativas negativas, pois a situação – apesar de uma surpreendente manutenção do nível de emprego a  evolução de alguns indicadores – começa a preocupar, com destaque para a inflação (que indica aumentos a que a sociedade não está mais acostumada a tolerar).

Se o núcleo dirigente da área econômica foi mantido, o mesmo não aconteceu com o núcleo duro que gerenciou a política durante o triênio presidencial dilmista, que foi bastante alterado. Deixaram o time as ministras Gleisi Hoffmann e Helena Chagas e também os ministros Fernando Pimentel e Alessandro Teixeira. A ministra Ideli Salvatti trocou de posto, indo para um ministério com um raio de ação reduzido. Do antigo núcleo dirigente da área política, restou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

A mídia ironizava o predomínio feminino neste comando estratégico, cognominando o quarteto Gleisi-Ideli-Helena-Miriam de “as meninas poderosas”. Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini e Thomas Traumann agora estão nos postos desocupados pelas três poderosas. Serão os homens da Presidente a gerenciar a administração e a política durante o período restante do mandato presidencial (e os intrigantes da corte de Brasília já estão insinuando que – com eles no Palácio do Planalto – Lula e o PT teriam ampliado o controle político sobre a gestão Dilma).

Na agenda política, a reorganização da base de apoio no Parlamento e o gerenciamento da obra administrativa que Dilma espera legar.

Os desafios são grandes, pois a sucessão presidencial explicitou contenciosos diversos no interior do governismo. As clivagens regionais complementaram o quadro. E hoje o governo federal está sob a ameaça de conviver, neste período restante de mandato, com uma CPI que objetiva questionar a competência gerencial e a lisura administrativa de Dilma Rousseff no setor energético, área de especialidade da Presidente. Além disso, aumentando a tensão, alguns ministros foram convocados/convidados para prestar contas ao Congresso Nacional (e, na pauta do Legislativo, ainda há pendências a serem votadas com certo potencial explosivo).

Um dos trunfos do governo para enfrentar as disputas políticas em andamento são as pesquisas de opinião eleitoral que – ao menos até aqui – indicam a reeleição de Dilma no 1º. turno. Se este cenário positivo sustentar-se até o segundo semestre, quando a campanha sucessória invadirá rádios e TV’s, é provável que o projeto reeleitoral mantenha-se em pé, com forte viés de sucesso.

Mas hoje há nuvens turvando o cenário: o governo estaria perdendo apoio popular em áreas importantes das políticas públicas. As mais recentes enquetes dos institutos de pesquisas apontam para isto. Vejamos.

Uma série histórica do Datafolha comprova que os problemas que atormentam o cotidiano dos brasileiros mudaram muito, na última década. Quando Lula tomou posse, em 2003, as três maiores queixas populares eram: o Desemprego (31%), a Fome&Miséria (22%) e a Violência&Segurança (18%). Em 2014, apenas o tema da Violência&Segurança manteve-se no mesmo nível entre as preocupações principais, com o Desemprego (4%) e a Fome&Miséria (2%) registrando um nível apenas residual.

No mesmo ano de 2003, a Saúde (6%), a Educação (4%) e a Corrupção (2%) pareciam não inquietar a população. Em 2014, juntamente com o quesito Violência&Segurança (18%) – são os temas principais (com 45%, 9% 10%, respectivamente). A insatisfação popular é tão elevada quanto à Saúde, à Segurança Pública e à Corrupção que os entrevistados pelo Datafolha consideram  que nestas áreas estaríamos vivendo, hoje,  em pior situação “do que no tempo do governo militar”!

Outro instituto, o Ibope, divulgou enquete com a avaliação a respeito do desempenho em determinadas áreas de governo. O resultado confirmou os números do Datafolha e foi muito ruim nos seguintes setores: “A depender das áreas de atuação do governo, a reprovação dos brasileiros é superior ao índice de aprovação. O índice de insatisfação chega a 77% na área de saúde e em relação aos impostos, 76% para a segurança pública, 73% para a taxa de juros, 71% para o combate à inflação, 65% para educação, 57% para as políticas de combate ao desemprego, 54% para as ações relacionadas ao meio ambiente. Na área de combate à fome e à pobreza, metade da população (48%) diz aprovar a atuação do governo, contra 49% que dizem desaprovar. Ainda segundo a pesquisa, 42% da população acham que o governo Dilma é pior do que o de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (o índice era de 34% há três meses)”.

Todos os homens da Presidente estão convocados a auxiliá-la a reverter o quadro de avaliações negativas e, pelo menos, a manter os índices de intenção de voto que, hoje, as pesquisas atribuem a Dilma Rousseff. Serão longos e penosos os sete meses que nos separam das eleições de Outubro.

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