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As forças políticas que apoiam Dilma Rousseff no Congresso Nacional conseguiram contornar parte dos problemas que vinham impulsionando tensões políticas desde o início deste semestre. A base parlamentar governista finalmente aprovou o projeto que altera as metas fiscais consignadas para 2014. Além disso, após longos trâmites, deliberou pela cassação do mandato do deputado André Vargas, acusado de ilícitos relacionados ao senhor Alberto Yousseff. O Judiciário também fez seu aporte para amenizar o clima político em Brasília, ao decidir aprovar (com ressalvas) a contabilidade das finanças de campanha da reeleição da Presidente.

Mas, nas demais frentes do conflito político-parlamentar o governo federal continuava sob forte pressão.

A crise na Petrobras não arrefeceu: na sexta-feira, uma nova e bombástica denúncia atingiu a presidência da Empresa, fragilizando a estratégia governamental que visava manter Graça Foster na sua direção. Além disso a empresa adiou a divulgação do balanço trimestral; impacto foi imediato no mercado de ações (Bovespa), mantendo o governo, a Petrobrás e seus dirigentes na berlinda.

Para complicar ainda mais o quadro, o preço do petróleo no mercado internacional vem caindo em função do baixo crescimento internacional e de movimentos da Arábia Saudita contra concorrentes dos EUA. Começam inclusive a aparecer “soluções mágicas” como negociar a exploração do pré-sal com empresas internacionais, defendidas pelo mercado e seus prepostos da mídia, sempre esquecendo de mencionar a magnitude das reservas da Petrobrás.

No dia 10, quarta-feira, foi divulgado o esperado relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que relatou as atrocidades ocorridas durante a ditadura de 1964-1985. O documento foi saudado interna e externamente pela opinião pública, mas foi criticado pelos mesmos setores militares que sempre demonstram desrespeito pelos direitos humanos.

Nota publicada em ‘O Globo’ expressou a visão que esses direitistas têm sobre a questão; mas foi o performático capitão-deputado Jair Bolsonaro quem ‘melhor’ retratou a postura fascista ante os direitos de cidadania: repetindo as grosseiras falas que dirigira em 2003 à deputada Maria do Rosário (ex-ministra dos Direitos Humanos), esta semana ele tornou a quebrar o decoro parlamentar, provocando muitas manifestações de repúdio à sua presença no Parlamento nacional.

Representantes da oposição e do governo também sustentaram a retórica de guerra que têm mantido desde a campanha eleitoral. Desta vez o protagonismo coube a três personagens da cena nacional: ao ministro Gilberto Carvalho (que publicamente referiu-se ao senador Aécio Neves como ‘playboyzinho’), ao candidato tucano às eleições presidenciais de 2014 (que relacionou o ministro ao affair Celso Daniel) e ao senador Aloysio Nunes (que chamou Carvalho de “cafajeste”).

Enfim, feitas as contas de perdas-e-ganhos, a crise política promete seguir fustigando Brasília, arrastando para o novo período de gestão (2015/2018) a agenda negativa que prejudicou o primeiro mandato presidencial de Dilma Rousseff.

Se a situação política do governo não é muito confortável, o quadro de conjuntura também é crítico para a oposição e está a exigir muitos cuidados; tomemos como exemplo o caso do principal governador eleito pelos tucanos, Geraldo Alckmim. Embora quieto em seu canto, procurando evitar os holofotes midiáticos, Alckmim não conseguiu mais escapulir das críticas a má-gestão dos recursos hídricos paulistas: a TV Globo passou a semana mirando o problema e o governador decidiu defenestrar o secretário estadual responsável pela área problemática (Mauro Arce). E como as desgraças sempre andam acompanhadas, a prestação de contas da campanha eleitoral de Alckmim foi rejeitada pelo Tribunal Regional Eleitoral…

Pelas bandas da economia, que podia significar um alívio ao quadro político, o cenário para 2015 não é dos mais positivos, pois a orientação da política econômica do próximo mandato cada dia mais aponta para uma proposta ortodoxa de curto prazo, sem sinalização significativa de retomada do crescimento “até onde a vista alcança”. Pelo contrário, as medidas propostas levam certamente à contração do nível de atividade econômica que já , em 2014, apresenta sérios sinais de desaquecimento.

Some-se a essas medidas a possibilidade de redução de investimentos da Petrobrás , responsável por parcela significativa do PIB, além da recomposição das tarifas de energia elétrica e temos um cenário indicando grande possibilidade de recessão acompanhada de elevação da inflação para o início do novo governo.


Créditos de imagem: dnangola.com

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