Em Destaques, Vida Nacional

Por Mauricio Dias

Empurrado pela vaidade e pelos mais obscuros objetivos, o juiz Sergio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, perdeu a noção da hora e tentou promover, na tarde da quarta 16, um levante no País. Não alcançou o objetivo. Falhou.

Conseguiu, no entanto, colocar a sociedade brasileira à beira de um confronto de desdobramentos incalculáveis. O País, no entanto, tem mostrado sua cara a partir da manifestação de seus piores instintos.

O Brasil concilia e evita conflitos. Amadurece, por isso, lentamente. Nos últimos 50 anos, por exemplo, aprendeu o suficiente para não politizar as Forças Armadas.

Moro valeu-se da Polícia Federal.

Insensatez. Assim cantaria Tom Jobim, para amenizar o ambiente pesado da política.

O desdobramento da volumosa manifestação de 13 de março, incensada por Moro, não deu o resultado esperado. A pavimentação do golpe contra a presidenta Dilma e, em seguida ou simultaneamente, a prisão do ex-presidente Lula.

De qualquer forma o ódio implantado na sociedade vingou. Perigosamente.

O sentimento, verdadeiro e mais expressivo, no coração e mente dos manifestantes está todo contido na faixa erguida em um ponto da Avenida Paulista, que, como se sabe, expressa a vanguarda das marchas realizadas em vários estados da Federação.

Em quatro linhas daquele pano-estandarte estava registrada a mais decisiva palavra de ordem para todos os integrantes do movimento. Eis a transcrição literal: “Fora! Dilma, Lula, Sarney, Collor, FHC, Renan, Serra, Maluf, inimigos dos brasileiros. Fora! Alckmin, acobertador (sic) de fiscais. Ladrões da Sefaz/SP. Fora! Aécio”. Alguém se lembrou, talvez na última hora, e acrescentou um nome: “Cunha”.

Provavelmente, além do juiz Moro, muito mais gente, além daqueles que marcharam a 13 de março, desacredita da política. A política, no entanto, adora todas elas. É nesse mundo de cidadãos indiferentes que os interesses mais ocultos, os mais sinistros, normalmente buscam apoio.

Os movimentos de aglomeração humana sem lideranças tornam-se massa de manobra dos piores objetivos. Tem sido assim ao longo da história.

Sem pretender estabelecer comparações, aliás, bem longe disso, recupero a reflexão de um cavernoso especialista em casos como este. Trata-se de Joseph Goebbels. Em momento de arrasadora crise política na Alemanha ele disse:

“A essência da propaganda é ganhar as pessoas para uma ideia de forma tão sincera, com tal vitalidade, que, no final, elas sucumbam a essa ideia completamente (…) É claro que a propaganda tem um propósito. Contudo, este deve ser tão inteligente e virtuosamente escondido que aqueles que venham a ser influenciados por tal propósito nem o percebam”.

Moro conseguiu colocar a sociedade à beira de um confronto de desdobramentos incalculáveis

CartaCapital: 18/03/2016.

Mauricio Dias. Jornalista.


Imagem: Diego Nigro/JC

 

Facebooktwitter