Invisível, acuada por baixos salários e destituída das prerrogativas primárias da cidadania como moradia, transporte, lazer, educação e saúde de qualidade, a maior parte dos brasileiros sempre foi peça descartável na engrenagem que movimenta a economia”.

(Luiz Ruffato, discurso de abertura na Feira do Livro de Frankfurt, Outubro, 2013).

Luiz Ruffato é um dos mais importantes ficcionistas brasileiros do século 21.  ‘Eles eram muitos cavalos’ é a obra-prima do autor, publicada em 2001 e que – revista e sob os cuidados de nova casa editorial –  deverá ser novamente re-editada ainda em 2013.

O último livro publicado por Luiz Ruffato – ‘Domingos sem Deus’, 2011 – concluiu a pentalogia ‘Inferno provisório’, editada desde 2005 (ano da publicação do primeiro volume: ‘Mamma, sou tanto felice’). Com a pentalogia, Ruffato quis retratar a dura trajetória existencial do proletariado no Brasil da segunda metade do século passado.

‘Domingos sem Deus’ é composto por seis narrativas — ‘Mirim’, ‘Sem remédio’, ‘Trens’, ‘Sorte teve a Sandra’, ‘Milagres’ e ‘Outra fábula’. Nelas, o relato dos esforços dos protagonistas — os proletários — para sobreviverem sob duras condições sociais, para adaptarem-se à vida metropolitana (vindos de pequenos burgos) e para acompanhar a velocidade dos tempos contemporâneos.

A estrutura do livro quer reproduzir o desenho e o ritmo das modernas sociedades do final do século passado: fragmentárias, individualistas, dinâmicas, turbinadas. A resultante foge ao padrão romanesco clássico e daí a dificuldade para identificar o gênero literário. Talvez possamos dizer que ‘Domingos sem Deus’ (e também os demais quatro livros da pentalogia) poderia ser classificado como um ‘romance fragmentado’.

A obra, no conjunto, provoca impacto positivo e aguça o interesse pelas realistas narrativas construídas por Luiz Ruffato, um clássico contemporâneo, um literato imprescindível para a compreensão do Brasil deste início de século.

William Sodré, estudou Ciências Sociais.

Foto: Divulgação Bienal do Livro de Minas

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