Em Destaques, Sem papas na língua

O Brasil está se tornando uma Nação, ou seja, um conjunto político autônomo de cidadãos que ocupa um território delimitado, e cujos membros compartilham convicções e lealdades a certas instituições, o que lhes confere unidade como comunidade. O que faltava ao povo brasileiro era autonomia. E hoje, pelo menos sob um  certo aspecto, o Brasil da um primeiro passo para se tornar uma Nação.

Uma tentativa anterior fracassou. Foi o Acordo Nuclear Brasil – Alemanha, durante o Governo Geisel, que pressupunha transferência de tecnologia, mas que resultou quase que unicamente em aquisição de “caixas pretas”. A tímida tentativa do Governo Lula de ressuscitar o famigerado programa deu com os burros n’água, ao que tudo indica. Hoje o Brasil é tão incompetente em tecnologia nuclear, senão mais, do que quando assinou o acordo nuclear. O movimento para escapar à tutela dos EUA foi derrotado.

Essa submissão, todavia, foi confirmada posteriormente em duas importantes derrotas brasileiras no campo tecnológico. Uma foi a ignóbil legislação de propriedade intelectual da ignóbil legislação brasileira para o setor, concebida, entretanto, a mais degradante demonstração de subserviência, aliás, ocorrida também durante o Governo Fernando Henrique, foi o infame Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), em que seria atribuído ao Brasil unicamente as obras civis. Basta dizer que havia uma cláusula do contrato que dispunha que caso os EUA não pudessem fornecer um item tecnológico qualquer, este poderia ser adquirido em qualquer outro país, exceto o Brasil. O que, obviamente, excluía o Brasil de qualquer oportunidade de capacitação tecnológica. Apesar da afronta aos brios nacionais, o projeto foi aprovado pelo Senado. Uma semana depois, as “emendas” dos membros da Comissão foram liberadas como mostrou a Folha de São Paulo. Ou seja, o Governo Fernando Henrique comprou a dignidade e, segundo denúncias veiculadas na imprensa da época, o voto do Senado brasileiro para ofertar um tributo ao tutor americano. O caso é uma vergonha para o Brasil, não por causa dos 2 ou 3 bilhões de dólares, mas pela renúncia à capacitação tecnológica.

Pois bem, eis que quebrando a esta tradição de “servilismo voluntário”, o Governo Dilma Rousseff elege o caça sueco para aquisição, que oferece ampla transferência de tecnologia em detrimento das opções americana e francesa, em que não haveria, de fato, ampliação da competência tecnológica brasileira no setor. Neste período de obscurantismo tecnológico só houve dois acontecimentos de alguma relevância no Brasil. O primeiro iniciado durante o governo militar, a criação da Embraer, e o segundo, com início durante o Governo Sarney, projeto e construção de um Síncrotron de segunda geração (acelerador de elétrons) para produção de radiação eletromagnética e que tem agora continuação em outro acelerador de terceira geração.

Todavia, pela dimensão econômica e característica de difusão tecnológica, o acordo com a Suécia para construção compartilhada do jato é o mais importante passo que o Brasil já deu depois da criação do CSN e da Petrobrás, o que mostra um amadurecimento da percepção da relevância do conhecimento científico e tecnológico para a autonomia política nacional. durante o Governo Collor e aprovada durante a Administração Fernando Henrique Cardoso. Salvaguardas tradicionais foram espontaneamente excluídas, incluso o período de quarentena de 10 anos que permitiria a uma parcela da crescente indústria de química fina de sobreviver.

 

Créditos de imagem: aereo.jor.br

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