Em Destaques, Vida Nacional

Se, há uma quinzena, os três principais presidenciáveis estiveram com o empresariado da indústria, na semana passada foi a vez dos capitalistas do campo receberem Dilma, Aécio e Campos em reunião da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

A imprensa resumiu assim essa sabatina na CNA: “Enquanto na CNI muitas propostas se confundiam entre as três candidaturas, na CNA os discursos e situações explicitaram posições distintas entre eles”. (Correio Braziliense, 7/8/2014).

Segundo relato de O Globo (7/8/2014), Dilma concentrou-se na defesa de seu quadriênio de governo: — “Na safra de 2001/2002, nós produzimos 100 milhões de toneladas de grãos em 37,8 milhões de hectares. Na safra de 2014/2015, nós estimamos uma produção de 200 milhões de toneladas em 58 milhões de hectares, um salto de produtividade de mais de 40%”. Ela ressaltou também o tema da cobertura Seguro Agrícola, que, de um patamar de R$ 280 milhões, foi para R$ 700 milhões na última safra. Abordou, finalmente, o contencioso da demarcação de terras: — A questão das terras Indígenas é um dos nossos desafios. Determinei ao Ministério da Justiça que faça uma revisão nas normas a fim de que o processo de demarcação de terras Indígenas possa garantir maior transparência e maior segurança jurídica.

Aécio estava em seu habitat, neste encontro. Três foram os seus compromissos com o campo: um ‘superministério’ da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Pesca; a garantia de segurança jurídica quanto ao direito à propriedade; e a prioridade para a logística: — “Criarei um superministério da Agricultura, vou incluir a pesca novamente, e outras ações que poderão ser incorporadas. O Ministério da Agricultura terá assento em igualdade de importância junto aos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Não será mais subordinado aos ministérios nem ao Banco do Brasil. No meu governo, quem definirá a estratégia da pecuária e da agricultura serei eu. O ministério sairá definitivamente do balcão de negócios ao qual está submetido hoje”. “O candidato prometeu ainda cumprimento rigoroso da lei no caso de invasões de terras e uma revolução Logística que priorize a construção de hidrovias e ferrovias”. (O Globo, 7/8/2014)

Campos — Marina Silva à tiracolo — era o presidenciável mais deslocado no ambiente. Ele “tentou um equilíbrio difícil em seu discurso: prometeu aumentar subsídios ao agronegócio e fortalecer o Ministério da Agricultura. Mas ao ser questionado por jornalistas sobre as posições contrárias entre Marina e o setor do agronegócio, Eduardo Campos ficou numa saia justa, e afirmou que a candidatura respeita divergências e que buscará o consenso entre a responsabilidade ambiental e os produtores rurais”. (Correio Braziliense, 7/8/2014).

A campanha começa a acelerar e estamos a uma semana do início da propaganda eleitoral através de rádio e TV. A disputa presidencial continua embolada, com a mais recente pesquisa Ibope reiterando que o eleitorado segue dividido em três fragmentos: 38% dos entrevistados apoiam a reeleição de Dilma Rousseff, que assim lidera o ranking; a oposição — no seu conjunto, somado todos os 10 adversários da Presidente — totalizou também 38% da amostra; e 24% do eleitorado ainda não definiu voto.

Quadro 1 — Ibope: intenção de votos/eleição presidencial (%)[/vc_column_text]

Candidato Julho Agosto
Dilma Rousseff (PT) 38 38
Aécio Neves (PSDB) 22 23
Eduardo Campos (PSB) 8 8
Pastor Everaldo (PSC) 3 3
Outros (7 candidatos) 4 3
Sem candidato 25 24

Fonte: G1, 07/08/2014

Os números globais estão estabilizados, mas quando regionalizados verifica-se que as intenções de voto em Dilma Rousseff alteraram-se acima da margem de erro em todas as regiões do país (sem que Aécio e Campos fossem beneficiados por isto):

subiram no Sul (de 30% para 36%) e no Norte—Centro Oeste (de 34% para 45%);
mas caíram no Sudeste (de 32% para 29%) e no Nordeste (de 55% para 51%).
Para Kennedy Alencar, “A estabilidade dos números confirma a resistência da presidente Dilma Rousseff num patamar alto (38%). A soma de todos os demais adversários também atingiu 38%. Isso significa que, hoje, a eleição ainda poderia ser decidida no primeiro turno. Mas o histórico das três últimas eleições indica tendência diferente: o PT nunca ganhou uma disputa pelo Palácio do Planalto no primeiro turno. Menos conhecidos, os candidatos da oposição ainda podem crescer [principalmente via rádio e TV] e levar a eleição para uma segunda etapa”.

O calcanhar-de-Aquiles de Dilma Rousseff é a sua taxa de rejeição. O Ibope de agosto registrou estabilidade neste quesito, mas a Presidente continua ostentando uma rejeição eleitoral superior a um terço dos entrevistados pelo instituto:

Quadro 2 — Ibope: taxa de rejeição dos presidenciáveis (%)

Candidato Julho Agosto
Dilma Rousseff (PT) 36 36
Aécio Neves (PSDB) 16 15
Eduardo Campos (PSB) 11 11
Pastor Everaldo (PSC) 8 9

Fonte: G1, 07/08/2014

Comparando as taxas de intenção de votos e de rejeição, constatamos que o saldo da Presidente é de dois pontos percentuais (38 — 36). O de Aécio é de oito pontos (23 — 15). Zero é o saldo de Campos e oito pontos negativos é o de Everaldo.

Outro fator avaliado pela pesquisa Ibope mostra que houve diminutos avanços na avaliação do Governo Dilma Rousseff e também do modo governar da Presidente:

A avaliação boa ou ótima da atual gestão está em 32%, ante 31% no levantamento anterior, de julho. A avaliação regular oscilou de 36% para 35%. A avaliação ruim ou péssima de 33% para 31%;
Segundo a mostra, 49% desaprovam a maneira de governar de Dilma. E 47% a aprovam. Na pesquisa de julho, 50% desaprovavam o governo e 44% aprovavam.
Num balanço geral, José Roberto Toledo observa que “a confiança do consumidor melhora e segura Ibope de Dilma”: — “Dilma Rousseff (PT) não cai nem sobe, mas a avaliação de seu governo está ligeiramente melhor. […]. Não por coincidência, a confiança do consumidor medida pela CNI/Ibope cresceu 3% em julho – principalmente porque diminuiu o medo de aumento da inflação e do desemprego. Ainda não dá para saber, porém, se essa melhora das percepções econômicas vai se manter nos próximos três meses, vitais para a eleição. […]. A chance de que haja segundo turno continua meio a meio, mas a taxa de conversão dos votos inválidos em válidos tem beneficiado mais a oposição do que Dilma. Hoje, há empate entre as intenções de voto na petista e a soma dos candidatos oposicionistas: 38% a 38%. Em abril estava 37% a 25%”. (Vox Populi, 7/8/2014).

Enfim, estamos a uma semana do início da batalha decisiva pela Presidência da República, naquela que se configura na grande guerra eleitoral de 2014. E tudo ainda é muito incerto.

O cenário de curto prazo cada vez mais é influenciado pelas pesquisas de intenção de voto divulgadas semanalmente e na economia assuntos importantes como a posição frente ao futuro do Mercosul, aprofundamento de relações com os BRICS, política industrial, política fiscal, para o futuro da sociedade brasileira, passam ao largo e quando abordados , pelos candidatos, não apresentam detalhamento suficiente para a construção de cenários de médio/longo prazos com um mínimo de consistência.

Créditos de imagem: exclusivo.com.br

Facebooktwitter