Em Análises e Reflexões, Destaques

Por Nilson Lage

Durante a visita da Presidente Dilma Rousseff às obras do Sirius, o acelerador de partículas do Laboratório Nacional de Luz Sincrotron, os mais de 400 trabalhadores ocupados na obra poderiam ficar em casa. No entanto, nenhum deles faltou; isso foi o que mais comoveu o Professor Rogério Cezar Cerqueira Leite, de 84 anos, anfitrião de Dilma e presidente do Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais, a que o laboratório está subordinado.

O acelerador de partículas é uma estrutura circular de 235 metros de diâmetro, em que elétrons serão acelerados por ímãs colocados em série; sua peculiaridade com relação aos aceleradores mais conhecidos (como o grande colisor de hádrons do Cern, instalado na Suíça) é que não objetiva promover o choque de partículas e, sim, estudar os efeitos da penetração, em diferentes materiais, das radiações que as transportam com frequência variada, desde as de ondas mais longas, infravermelhas, até os raios-X, passando pelas cores do espectro e pelo ultravioleta. O conhecimento resultante será útil em vários campos de aplicação tecnológica.

A construção do Sirius, avaliada em R$1,3 bi e que deverá terminar em 2019, conta com aportes de recursos, o principal deles do governo federal; Dilma é grande incentivadora do projeto. Trata-se de ferramenta de pesquisa de ponta que se integra a um projeto de nação com presença plural no mundo globalizado, ao lado de outras iniciativas\ – por exemplo, o desenvolvimento do projeto de aviões como o cargueiro KC-390; as centrífugas para enriquecimento de urânio e a construção do submarino nuclear; ou a implantação do instituto de neurociências por Miguel Nicolelis no Rio Grande do Norte.
Paralelamente a isso, é mais um ponto que se destaca no padrão burocrático de rotina e dependência no campo técnico-científico brasileiro, São eventos sempre marcados por indivíduos que se relacionam em condição peculiar com a máquina do Estado: Osvaldo Cruz e a fundação que tem seu nome, no Rio de Janeiro; Santos Dumont e o início de uma vocação para a engenharia aeronáutica que se manteve ao longo do tempo; Aloysio Campos da Paz Júnior e a Rede Sarah; a pesquisa física, conduzida, em Campinas, por Marcelo Damy de Souza Dantas, Cesar Lattes, Sérgio Porto e Rogério Cezar Cerqueira Leite, entre outros.

Do Facebook do Autor: 11/06/2016.

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Nilson Lage. Jornalista e professor universitário. Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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