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Mito 5 – Família Campos transfere votos: Pernambuco vota em Dilma, mesmo após apoio do grupo do ex-governador a Aécio

O tucano Aécio Neves lançou sua campanha no 2.º turno em Pernambuco, onde recebeu o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB até agosto, quando morreu em um acidente aéreo. Os líderes do PSDB esperavam que a família Campos e a máquina local do PSB proporcionassem uma vitória para o tucano em um Estado nordestino, assim como havia ocorrido com Marina Silva, primeira colocada no 1.º turno.

A estratégia não deu resultados. Aécio teve entre os pernambucanos 29,8% dos votos válidos, resultado próximo da média que obteve em todo o Nordeste: 28,3%. O tucano ganhou em apenas uma cidade pernambucana: a pequena Taquaritinga do Norte, onde obteve 7.340 votos, 432 a mais do que a petista Dilma Rousseff. Na capital, Recife, onde Marina havia obtido 63% dos votos no 1.º turno, Dilma venceu na 2.ª rodada da disputa por 60% a 40%.

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Mito 6 – Minas Gerais elege presidente: só uma vitória improvavelmente distante no seu Estado natal levaria Aécio ao Planalto

Mesmo se ganhasse em seu Estado natal, Aécio Neves (PSDB) ainda teria dificuldade em se eleger. Dilma Rousseff (PT) teve 52,4% no Estado e o adversário, 47,6%. Se o tucano tivesse invertido esse resultado e ganhado os 550.601 votos que a rival ganhou a mais em Minas, ainda faltariam 2,3 milhões de eleitores no resto do Brasil. Na votação total de Aécio, Minas representa 11%, menos que a soma de Santa Catarina e Bahia.

Só uma vitória distante em Minas, de 63% a 37%, daria a Aécio os votos necessários para ganhar de Dilma. Com esse resultado – quase igual ao do Estado de São Paulo (64% a 36%) –, ele chegaria a 52.771.137 de votos em todo o Brasil, um a mais que Dilma. Mas uma vantagem tucana como essa não acontece em eleições presidenciais em Minas desde que Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994, no 1.º turno. Naquele ano, derrotou Lula no Estado por 65% a 22%. Nem em sua segunda vitória de 1.º turno, em 1998, Fernando Henrique repetiu o resultado: o placar foi 56% a 28%.

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Mito 7 – Abstenção é alta e demonstra apatia: não comparecimento às urnas é um fato muito mais ligado a falhas de cadastro da Justiça do que a desilusão eleitoral

Ao fim de todas as eleições, analistas correm para declarar que cerca de um quinto da população decidiu não votar. O número se baseia na abstenção divulgada pelo  Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, os votantes que não foram às seções eleitorais. Historicamente, a abstenção gira em torno de 20% e o número não varia muito de eleição para eleição.

Essa análise é falha porque atribui às abstenções um peso político maior que o que de fato têm. Isso porque o suposto não comparecimento às urnas tem mais a ver com uma falha no cadastro eleitoral do TSE que com a falta de engajamento político.

Conforme revela o gráfico abaixo, a abstenção foi menor em 2014 nos municípios que passaram recentemente pelo recadastramento biométrico — em que os eleitores registram na Justiça Eleitoral suas impressões digitais. O recadastramento remove da lista do TSE eleitores que já morreram, e que, naturalmente, não podem aparecer para votar.

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Reportagem publicada no jornal O Estado de São Paulo (http://bit.ly/1pU41AS)

José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti, Daniel Trielli, Diego Rabatone, Lucas de Abreu Maia e Rodrigo Burgarelli


Créditos de imagem: baciadojacuipe.com.br

 

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