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Por Luíza Costa

Com narrativa ágil e clara, o romance Celéstia, a Guerreira do Orun (374 págs., Editora HP Comunicação), vai envolvendo o leitor de tal forma que, logo nas primeiras páginas, se vê agarrado à história da menina que é levada à Terra dos Orixás para desvendar os mistérios que a cercam e a sua família.

A obra do jornalista carioca Paulo de Carvalho é construída sobre conceitos da Física Quântica com a Mitologia dos Orixás e tem filosofias espiritualistas como ânimus da ficção. Com esses elementos criativos, ele teve seu livro de estreia indicado ao Prêmio Rio de Literatura 2015, da Fundação Cesgranrio.

No primeiro volume da série Tempo de Magia, programado para sete títulos, a protagonista ainda é uma garota cujo pai desapareceu após o trabalho sem deixar qualquer pista e ela, a mãe, o irmão e a avó sofrem perigosos ataques estranhos. Um deles morre. Quem será o responsável pelas tragédias à família?

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Em busca de respostas, Celéstia vai a igrejas e a lugares espíritas, mas, neles, todos lhes dizem que a solução está em outro lugar. Por fim, a menina começa a sonhar e a conviver com pessoas que têm poderes mágicos de alterar a realidade, voar, vencer adversários bem mais poderosos, manipular os elementos da Natureza e saber o futuro. Então, fica sabendo que são os Orixás.

Mas não se tratam de sonhos. São desdobramentos astrais, que a levam às dimensões onde os Deuses do Orun vivem. O autor, que tem pós graduação em História Cultural e vem há quase duas décadas pesquisando a Mitologia dos Orixás, foi buscar na Física Quântica as teorias de Einstein acerca dos mundos paralelos de tempo e espaço diferentes.

Aos poucos, Celéstia se dá conta de que é esperada por todos eles e os percebe como super-heróis, com capacidades fabulosas, embora se pareçam e vivam como seres humanos normais.

Ela conversa com Orunmilá, o Governador dos Segredos, socorrendo-o numa emboscada na estrada; passeia com Lebara, o Exu, ajuda Oxum a ter o filho no rio, brinca com Agemô, o camaleão sagrado, conhece o mais bem guardado segredo do Orun para a humanidade e, finalmente, apoiada pelos Orixás Guerreiros, entra em batalhas contra as Voduns Negras em duas dimensões temporais.

A história se passa simultaneamente em dois planos dimensionais, divididos em vários cenários, com personagens humanos de um lado e míticos de outro. Ao fim, uma grande surpresa concedida pela Deusa das Águas Doces.

 O livro vem agradando tanto ao público jovem quanto ao adulto, passando ao largo de estereótipos e dogmas religiosos. Paulo de Carvalho vale-se dos gêneros de aventura, humor, suspense e drama para compor um romance de realismo fantástico sem nada dever aos melhores best sellers similares no mercado.

Como resultado, tem colhido elogios diversos, inclusive de praticantes do Islamismo e de protestantes, e seus personagens vão cativando leitores Brasil afora. Num rompante de entusiasmo, uma médica psiquiatra de São Paulo declarou: “Já temos algo melhor do que Harry Potter!”

Luíza Costa. Médica. Professora na Universidade Federal Fluminense (UFF).


Imagem: hodderscape.co.uk

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