Por Alunos de escolas estaduais de São Paulo
Decidimos escrever esse texto para esclarecer alguns pontos sobre as ocupações das escolas públicas que não são mostrados pela mídia.
Somos estudantes e estamos ocupados nas nossas escolas. Nossa bandeira é clara: a qualidade da educação pública.
Não estamos ocupando as escolas por não ter o que fazer, por sermos desocupados, como já chegamos a ler em revistas. Alguns de nós já trabalham como jovem aprendiz, entregando pizza aos finais de semana ou no comércio de nossas comunidades.
Temos irmãs, irmãos, primos e até os nossos pais que estão sendo afetados pelo fechamento das escolas. Sem falar dos nossos professores, que muitas vezes passam mais tempo com a gente do que a nossa própria família.
Sim, ocupar é o verbo mais adequado para usar nas matérias e é muito diferente de invadir. Ultimamente lemos nos jornais que são sinônimos, mas sabemos muito bem que não têm o mesmo significado. É uma ocupação porque estamos nos apoderando do que é nosso, um patrimônio público que devia ser lugar do saber.
Outra coisa que não é mostrada são os porquês de sermos contra o fechamento das escolas. Essa omissão nos leva a crer que a mídia está querendo favorecer um lado – que não é o nosso.
Somos contra o fechamento das escolas porque vai gerar ainda mais salas superlotadas.
Também somos contrários ao ensino desestimulador que nos é dado. Nosso ensino vai de mal a pior e por isso a nossa ocupação também pede uma educação de qualidade. Muitos de nós só aprenderam a fazer uma conta de dividir no segundo ano do ensino médio. E o mais absurdo é que muitos estudantes descobrem fora da escola o quanto é bom estudar.
Queremos uma escola que nos prepare para os desafios que vamos encontrar na vida e não para o mercado ou para fazer um vestibular.
Para nós, a grade escolar poderia estimular as coisas boas que existem nos estudantes. Com as ocupações nós descobrimos o potencial de nossas colegas que estão dando aulas de artes, esportes, origami, kung fu. Por que a escola não descobriu isso antes?
Na nossa ocupação a bandeira contra a precarização da escola também está presente. O ambiente escolar não poder ser sujo, quebrado, cheio de grades.
Senhor Governador, você já utilizou algum banheiro de escola pública? Com certeza não, senão já teria feito algo para melhorar a estrutura escolar, não é?
Mas essas reivindicações não constam nas matérias que tentam retratar as ocupações. Muito menos a repressão que estamos enfrentando, que não é só da Polícia Militar com seu spray de pimenta, mas de pessoas que não esperávamos.
Em muitas escolas, as diretoras e vice-diretoras estão agindo com violência e ódio, chegando a jogar carros em cima dos estudantes, ligar para os pais para dizer a orientação sexual de estudantes e assim incentivar a intolerância nas famílias. Isso a mídia não mostra. Por quê?
De acordo com as matérias, quem está protagonizando as ocupações são os partidos políticos, o MTST, a Apeoesp, as entidades estudantis gerais. Não é verdade.
O nosso movimento é de dentro para fora e isso não quer dizer que não queremos o apoio dessas entidades, pelo contrário, queremos o apoio delas e de toda a sociedade porque a nossa causa é justa e sabemos que não é só nossa.
Temos consciência de que não podemos voltar atrás. Se uma, apenas uma escola desistir ou o Governador Geraldo Alckmin conseguir a reintegração de posse o impacto será em todas as outras, por isso, mesmo estando separados dentro de cada escola, a nossa luta é uma só: a educação pública.
Não vamos desistir, não vamos desocupar até que seja revogada a decisão de fechar as escolas. Não somos melhores que ninguém, mas somos a geração da esperança, que sonha, se organiza e luta por uma educação de qualidade e pública para todos.
Subscrevem: Alicia Esteves, 16 anos; Antônio de Assis Soares, 15 anos; Clara Esteves, 16 anos; Érica dos Santos Teixeira, 16 anos; Evelyn Ferreira Lima, 16 anos; Gabriela Callis, 17 anos; Guilherme França, 19 anos; Júlia Gabriela Costa e silva, 16 anos; Leonardo Botellho Pires, 17 anos; Luana Dias Farias, 18 anos; Mickaely P. Goes, 16 anos; Ricardo Almeida dos Santos, 15 anos; Stanley Sousa, 16 anos; Thais Milena, 16 anos.
Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé: 26/11/2015.
Imagem: portalctb.org.br