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O que reserva o futuro para a humanidade? Como será o homem do futuro? Para simplificar vamos dividir os pressupostos em três categorias: Contingências impostas pela natureza; Consequências devidas a mudanças tecnológicas; Efeitos devidos a mudanças sociológicas.Contingências impostas pela natureza

Contingências impostas pela natureza
Muitos futurólogos ainda veem com inquietação a questão de disponibilidade de alimento, hoje agravada pela competição com biocombustíveis. De fato, isto já ocorre nos EUA onde cerca de 60% da safra de milho já é destinada à substituição de combustíveis fósseis. Em certa medida também na Europa esta concorrência já é significativa. Todavia, na América do Sul, principalmente no Brasil, e África ainda há muito espaço para expansão agrícola. Além do mais, a adoção de novas tecnologias, inclusive a produção de segunda geração de etanol, poderão aliviar enormemente o conflito alimentos – biocombustíveis. Para além do século XXI podemos esperar que o aumento de eficiência em todas as formas de captura de energia solar, seja sobre a superfície da Terra, seja na estratosfera, seja por via fotovoltaica, se por via fotossintética como propõem alguns, serão equivalentes quanto a custos e suficientes para fornecimento de energia para os 10 bilhões de habitantes que atingiria a população da Terra na pior das hipóteses. As previsões pessimistas quase sempre ignoram o aumento de produtividade devido a novas tecnologias e de eficiência na utilização dos insumos. Concluímos, portanto, que disponibilidade de alimento e energia não contingenciará significativamente o homem do futuro, embora transitoriamente possa vir a fazê-lo.

O aquecimento global é inexorável. É uma resposta da natureza aos abusos do homem. Em 2050 o aumento da temperatura média da Terra será de pelo menos 2° C em relação ao atual, mesmo que não haja aumento de emissão de gases de efeito estufa devido ao consumo de combustíveis fósseis na próxima década. As atuais legislações de limitação desse consumo não são senão tênues paliativos e o vício do petróleo é irremovível. Degelo da Antártica, Groenlândia, Alpes, Himalaias, Andes, etc. causarão aumento do nível do mar e exaustão de rios vitais para certas populações. Como consequência, grandes parcelas da população terão que ser deslocadas. A História mostra, todavia, que o homem sobrevive a essas mudanças, apesar das grandes perdas materiais e dos necessários ajustes de hábitos. Os problemas que deverá enfrentar a humanidade devido ao aquecimento global serão muitos e crescentemente prejudiciais, mas serão ultrapassados senão pela inteligência humana, pelo menos, quando os combustíveis fósseis se esgotarem, o que, na toada atual, ocorrerá antes do fim deste século, incluídos o uso de todo o xisto betuminoso, do carvão, do petróleo e do gás natural do mundo. Ao homem do futuro não restará alternativas senão aproveitar melhor a luz do sol e talvez novas formas de energia nuclear. Mas antes de tudo terá que aprender a economizar energia. Fantasias, como grandes e numerosas espaçonaves são pouco realistas. Simplesmente não haverá disponibilidade de energia. Muito provavelmente o turismo do futuro se fará principalmente por bicicleta ou pela internet.

Consequências devidas a mudanças tecnológicas
O homem também será vítima de suas próprias invenções. Toda tecnologia é uma arma de dois gumes. A máquina não dominará o homem como temem alguns futurólogos, mas terá uma influência crescente em seu modo de vida. As comunicações eletrônicas, os robôs, vão tornar a vida do homem mais fácil e seu poder sobre a natureza maior a cada dia. Com isso se distanciaria o homem do futuro de suas raízes, de sua história e da própria natureza? A vida natural será aquilo que vê na televisão? A história será aquela dos filmes épicos? Suas diversões serão os jogos eletrônicos? Encontrará seus amigos nas “raves” ou nos face books? Será o homem do futuro capaz de revoltar-se contra a insidiosa sedução da tecnologia? Será capaz de perceber os perigos da crescente dependência quanto à máquina? A história mostra que o homem tem sido capaz de suplantar suas próprias fraquezas. O tempo dirá.

Até recentemente o cientista e o homem comum viam a genética como um aparato estático imutável da natureza, que comandava sua vida e a matéria viva. Era desagradável, mas aceitável. Hoje começamos a ver a genética como uma plataforma de mudança não apenas das coisas vivas mas também do próprio homem. O homem do futuro se sentirá, por esta via, como se fosse ele mesmo Deus. Pois é capaz de determinar a própria sorte. Hoje ainda há reações substanciais à engenharia genética e estas serão crescentes, tanto as de ordem religiosa como também aquelas devido a precauções dos próprios cientistas. Mas no futuro, certamente, deverão sucumbir essas restrições devido ao aumento inexorável da racionalidade materialista.Efeitos devidos a mudanças sociológicas

Efeitos devidos a mudanças sociológicas
Talvez a mais importante mudança da humanidade que se avizinha seja de natureza sociológica. Embora até o momento diferenças de renda não venham sendo reduzidas na maioria das populações, diferenças de nível de educação, de cultura, entre os vários segmentos da sociedade, começam a diminuir. Isto cedo ou tarde acarretará um aumento da equidade social enquanto o aumento da instrução redundará em uma redução significativa da importância de superstições e religiões no quotidiano do cidadão. O homem do futuro ainda precisará do mito, da fé, mas sua crença não poderá deixar de ser balizada pelo conhecimento de seu poder sobre a natureza, propiciada pela ciência e tecnologia e pelo pleno acesso à informação. A percepção que terá sobre seu poder de alterar seu próprio destino pela manipulação genética e, simultaneamente, a consciência das limitações que as condições naturais lhe impõem farão do homem do futuro um cidadão mais responsável, mais tolerante. Essa é a esperança dos otimistas.

Publicado na Revista Brasileira de Psicanálise. Órgão Oficial da Associação Brasileira de Psicanálise. O Homem do Futuro, Hoje. Volume 49, nº 1 – p. 223-226. 2015


Créditos de imagem: msalx.casa.abril.com.br

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