Por Nilson Lage
Uma série de fatores conspira para a superação do quadro político gerado pela revolução industrial e o retorno a um tipo de sociedade delimitada pela relação comercial, privilégio de patentes e disputa de mercados – uma espécie reciclada de nova era mercantil.
Com o ingresso em massa das mulheres no mercado de trabalho urbano, durante e após a Segunda Guerra Mundial, quase que se duplicou o número de trabalhadores para o mesmo volume de dispêndio com salários. Expressão disso é a redução relativa do valor do salário-mínimo, antes calculado para o sustento de uma família de quaro pessoas e hoje insuficiente para a sobrevivência de uma só que se mantenha isolada.
A mecanização crescente nos últimos 150 anos reduziu a contratação de trabalhadores com pouca habilitação profissional e baixo nível de escolaridade. A automação, nas décadas recentes, complementa isso, eliminando vagas em níveis de formação intermediários e, mesmo, superiores.
O maior impacto da revolução tecnológica é a menor participação da exploração do trabalho na delimitação da classe dominante, basicamente porque não se pode extrair mais-valia de máquinas e sistemas de processamento eletrônicos.
No mundo que se desenha, o poder real reside no controle de bens virtuais: o dinheiro, que é uma convenção isenta de substância física (seu valor não se mede mais em ouro, milho ou outra matéria eleita para esse fim) e o conhecimento congelado em patentes e direitos do autor.
Pois é justamente agora, quando o desemprego estrutural avança sem que o setor de serviços consiga compensá-lo, que o governo do Brasil achou de prolongar a ocupação compulsória dos trabalhadores e encarecer o investimento na formação e adaptação profissional.
Do FB do Autor [http://bit.ly/2h4rq89]:08/12/2016.
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Nilson Lage. Jornalista e professor universitário (UFRJ e UFSC). Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.