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Na Quarta-Feira-de-Cinzas, Joaquim Levy desfilou em Nova York. E, segundo a agência Reuters, apresentou-se para uma plateia de investidores. — “Estamos deixando de lado as medidas anticíclicas, e isso vai nos colocar em situação melhor”, disse. — “Estou confiante que iremos colocar a casa em ordem e voltaremos ao caminho do crescimento.”

As desonerações tributárias e os gastos, em 2014, custaram ao governo federal R$ 104 bilhões em receita (cerca de 2% do PIB), disse o ministro. O déficit fiscal cresceu e as autoridades econômico-financeiras temem que o Brasil perca a classificação de grau de investimento, conferida pelas agências de rating. “Tanto que, ao fim da palestra feita em Nova York, Levy reuniu-se a portas fechadas com representantes da agência de classificação de risco Moody’s para tentar convencê-los a não retirar o grau de investimento do país, obtido em 2008, […]” (Correio Braziliense, 21/2/2015). Vale lembrar que na segunda, 23/02, a agência em questão rebaixou a nota de crédito da Rússia para grau especulativo justificando, para tanto, a guerra na Ucrânia, a queda do preço do petróleo e a depreciação da moeda russa (rublo).

Para fazer frente aos maus humores do mercado financeiro, “Levy já aumentou impostos e limitou os gastos públicos” e disse aos investidores que está “confiante de que o governo terá o apoio adequado do Congresso para aprovação de medidas necessárias para realizar o ajuste fiscal”. Mas a Reuters crê que será um desafio relevante “convencer o Congresso Nacional a aprovar uma controversa série de mudanças nas regras de acesso a benefícios trabalhistas, como seguro-desemprego e abono salarial, com as quais o governo espera economizar cerca de 18 bilhões de reais por ano” (Reuters, 18/2/15).

Enquanto Levy cativa a “boa vontade do mercado”, dados divulgados apontam que o setor serviços, o principal empregador do País, apresenta sinais preocupantes, pois cresceu , em 2014, abaixo da inflação.

Na Europa, começaram as negociações do novo governo da Grécia com o comitê de ministros das finanças da zona do euro. Depois de alguns dias de tensão, o governo grego conseguiu uma prorrogação da “ajuda” por mais quatro meses até a apresentação de uma proposta definitiva de ajuste econômico. Esse “folego”, porém, pode apenas adiar o que muitos analistas dão como certo: a saída da Grécia da zona do euro (a conferir).

Em Brasília, Dilma reuniu os ministros de seu conselho político para traçar uma estratégia de reaproximação com os partidos da base aliada no Congresso, sobretudo com o PMDB. Além de pretender que o Congresso aprove as medidas do ajuste fiscal, a Presidente está preocupada com a derrubada de um veto (o que corrige a tabela do Imposto de Renda: o governo quer 4,5% neste ano e a oposição firmou posição em 6,5%).

Se a agenda político-parlamentar segue neste mesmo diapasão, a crise política continua se expandindo, em camadas sedimentares. Nenhum dos grandes problemas foi equacionado e a crise ganhou novo aspecto, opondo o Executivo (especialmente o ministro da Justiça) ao Judiciário, ao Legislativo e à mídia. Motivo: as investigações sobre o affair Petrobras e o indiciamento de dirigentes de empreiteiras acusados de crimes de corrupção.

O péssimo angu que nos foi servido, até aqui, promete ficar ainda mais apimentado nos próximos dias: a Promotoria deverá denunciar os políticos arrolados nas investigações sobre a Petrobras e persistentes boatos anunciam que cerca de quarenta deles têm foro privilegiado e serão julgados no STF.

Para agravar o quadro, começou em 23/02 uma greve de caminhoneiros, com fechamento de estradas em sete estados da federação, em protesto aos preços dos combustíveis e das condições das estradas com potencial explosivo se não for equacionada rapidamente.

A confusão é de tal porte que ninguém saberia dizer como — e quando — este agreste enredo vai chegar ao final. Para não compactuar com o pessimismo reinante, optamos por acreditar em Fernando Sabino: ele nos ensinava que “no fim tudo dá certo; e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”…


Créditos de imagem: fw.atarde.uol.com.br

 

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