Em Destaques, Vida Nacional

Ao fim do primeiro governo de Dilma Rousseff, 42% dos brasileiros aprovavam a sua gestão (Datafolha, dezembro/2014).

Mas, passados os primeiros seis meses do novo mandato, a Presidente perdeu muito de seu capital político: a taxa de aprovação reduziu-se a 10% (Datafolha, junho/2015).

Em 2014, o governo era regular para 33% dos entrevistados; e agora foi assim avaliado por 24% da amostra. Consequentemente, a taxa de reprovação cresceu quarenta pontos no período, assumindo dimensões de catástrofe: de 24%, foi para 65%.

Uma possível explicação para esta insatisfação popular residiria no comportamento negativo de quatro indicadores econômicos. Eles respondem pelo maior (ou menor) grau de qualidade de vida da maioria da população : emprego, renda, crédito, consumo. Todos eles registraram queda no semestre, queda acelerada pela guinada de austeridade da política econômica, além de uma forte aceleração da inflação (hoje, na casa dos 9% ao ano), com a elevação no nível de endividamento das famílias e com a diminuição das atividades econômicas (configurando o início de uma estagflação).

Outro fator seria a qualidade das políticas públicas (de transportes, saúde, educação, moradia, segurança pública), que continua insatisfatória — e não foram aprimoradas nem mesmo após as mobilizações de protesto promovidos nas metrópoles, a partir de junho de 2013 (e que ameaçam retornar às ruas, com manifestações agendadas para o mês de agosto).

À deterioração socioeconômica, associaram-se os efeitos devastadores da “operação lava jato”, com a promotoria e o judiciário encurralando as lideranças governistas (e contando com o suporte deletério vindo dos aparelhos ideológicos da oposição, principalmente aqueles instalados na mídia de massas: TV, rádio, imprensa escrita).

A decorrência foi óbvia, pois os Presidentes que contam com parcos apoios na elite e na cidadania — e que são bombardeados cotidianamente na mídia — ficam ainda mais reféns de suas bases de sustentação parlamentar. Foi o que aconteceu com Dilma. Ela perdeu a capacidade de pautar a política nacional, foi atropelada pela agenda implementada no Congresso Nacional e agora está sob ameaça de punição do Parlamento (caso vingue a hipótese de rejeição das contas de governo do ano de 2014, ainda sob análise do Tribunal de Contas da União).

O governo foi chantageado — e derrotado — seguidamente no Parlamento. Mesmo tendo optado por transferir a responsabilidade pela sua articulação política para o PMDB (que passou a dirigir o processo, através de Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha). Esse quadro sombrio provoca, a cada dia, uma piora nas expectativas futuras nos agentes econômicos, provocando muita insegurança, pressionando o já deprimido nível de investimento.

O único setor que ainda mostra vigor é o financeiro, beneficiado pela política monetária, utilizada como principal instrumento de combate à inflação a partir da elevação continua da taxa básica da economia (Selic).

Foi nesse cenário conturbado que o ex-presidente Lula decidiu botar mais pimenta no vatapá, fazendo “críticas à Dilma, ao governo e ao PT de forma sistemática. Aparentemente, desistiu de mandar na presidente, que chama de cabeça dura. Ultimamente, convoca os ministros petistas para reuniões no Instituto Lula e conversa com os aliados à revelia da Presidente da República. O objetivo de Lula é fazer o PT retomar a iniciativa no Congresso, onde a legenda está cada vez mais isolada. Para Lula, as bancadas petistas estão à matroca […]”. (Luiz Carlos Azedo: ‘O rei e a rainha’ | Correio Braziliense, 28.6.15).

Infelizmente, o quadro tende a continuar ruim: o cenário mais provável para o segundo semestre de 2015 é ainda muito pessimista. As políticas monetárias, cambiais e fiscais persistirão no arrocho. Emprego, renda, crédito e consumo tenderão à queda. O gasto público continuará deprimido. Os investimentos manterão o padrão acanhado do período recente. E não há expectativa positiva quanto ao futuro comportamento da economia global, o que manteria sob pressão as contas externas do País.

Hoje, as consequências da situação econômica delimitam a margem de manobra da Presidente, ampliando a crise de governabilidade. Até onde a vista alcança, o quadro é de turbulência para o restante deste ano.

Talvez os desdobramentos da crise grega – onde um pequeno País “ousa” não aceitar as condições impostas pelo mercado , via “troika” (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) que exige a continuidade e aprofundamento da política de austeridade que já provocou queda de mais de 25% do PIB da Grécia, acompanhada de um desemprego que beira os 60% dos jovens – possa apontar para uma inflexão futura das políticas econômicas de ajuste.

Porém, resta a Dilma Rousseff operar com prudência, feito os velhos marujos “que durante o nevoeiro levam o barco devagar”…


Créditos de imagem: uol.com.br

Facebooktwitter