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O gaúcho João Pedro Stédile, 60 anos, um dos fundadores e principal dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), não tem dúvida quanto aos números que vai digitar na cabine eleitoral neste domingo.

Suas certezas, porém, como as de muitos no campo progressista, estão longe de significar um cheque em branco aos escolhidos.

Nessa entrevista exclusiva à Carta Maior, Stédile qualifica seu voto com uma análise crítica da disputa política em curso, em sua opinião, ‘apenas o primeiro round de um intenso período de embates sobre os rumos da economia e do país, após o esgotamento dos ‘anos de neodesenvolvimentismo’.

O ciclo de governos progressistas iniciado em 2003 foi importante, no seu entender, ‘para barrar o neoliberalismo e gerar uma transição, com a retomada do papel do Estado e a do crescimento com distribuição da renda’. Mas esgotou seu lastro histórico. Esse esgotamento tem suas raízes na mudança da economia internacional, acirrada com a desordem neoliberal a partir de 2008, e vem radicalizar a disputa pelo poder no país, que se manifesta nestas eleições. ‘Tanto é que vários setores da burguesia antes integrados ao governo, agora estão na oposição’, observa, fazendo a leitura estrutural do estilhaçamento subjacente à emergência da ‘terceira via’, a disputar com o PSDB a representação dos interesses conservadores.

Lula, na opinião do líder do MST, foi o que melhor entendeu a profundidade dessa transição. ‘Ele ainda é a maior liderança popular que temos, percebeu isso, e foi o grande destaque dos comícios e intervenções nessa campanha, porque fez a leitura da situação da luta de classes intrínseca ao processo’.

Os protestos de 2013 acionaram outra sirene anunciando o crepúsculo de um período histórico. Caberá a um novo governo Dilma, diz ele, reordenar a economia e a política com base nesses novos marcadores: ‘Se não tiver forças para caminhar nessa direção´(mudar a economia e reformar o sistema político) teremos quatro anos de instabilidade e o povo voltará às ruas’, sentencia.

A mutação mais delicada, porém, a história endereçou ao PT . ‘O maior partido da esquerda, com toda sua influencia nas massas e nas organizações populares, abdicou de seu papel de organizador político e formador ideológico; resignou-se ao medíocre papel de disputar cargos públicos. Isso o esclerosou ideologicamente’, dispara Stédile para emendar uma crítica que soa quase como um desafio de renovação: ‘Como é possível conceber um partido que tem 800 mil filiados, mas não tem cursos de formação política, não tem sequer um jornal nacional que oriente o debate e a militância?

Leia a seguir a íntegra da entrevista de João Pedro Stédile a Carta Maior. E assista, ao final, ao documentário ‘Em busca da terra sem veneno’. Nele, o líder dos sem-terra aprofunda as correlações entre a destruição ambiental e a exploração predatória promovida pelo capitalismo contra a sociedade e a natureza. Clique aqui: http://bit.ly/1pSD4w0

Por João Pedro Stédile, liderança nacional do MST.


Créditos de imagem: abi.org.br

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