Por Idelber Avelar
A imprensa dos EUA está saindo muito manchada desta campanha eleitoral. A documentação publicada pelo Wikileaks não deixa dúvidas: desde o começo das primárias democratas, amplos setores da mídia trabalharam em coordenação com a campanha de Hillary Clinton para dinamitar Bernie Sanders. Não se tratava apenas de dar menos espaço a ele, de fazer cobertura tendenciosa ou de privilegiar Clinton na abordagem ou no foco. Foi muito mais que isso.
Os emails mostram1.
- que a campanha de Clinton regularmente rascunhava as próprias matérias sobre a candidata que depois seriam publicadas pela imprensa.
- que a campanha de Clinton tinha poder de veto sobre aspectos das matérias publicadas.
- que vários dos jornalistas dos principais meios de comunicação são doadores da campanha de Clinton2.
- pior de tudo, que pelo menos 65 jornalistas dos grandes veículos trabalhavam em coordenação com a campanha de Clinton. Aqui a lista completa3.
A coisa vai muito além de uma relação cordial e amigável entre jornalista e fonte. É um trabalho coordenado, primeiro para destruir Sanders nas primárias, depois para eleger Clinton nas gerais – trabalho, aliás, visível a qualquer momento em que você ligue a TV aqui nos EUA, em qualquer canal, com a exceção da Fox, que é Republicana. Da CNN à MSNBC, da ABC à CBS à NBC ao New York Times, está todo mundo fazendo campanha.
Que essa documentação, amplamente disponível por aí, não tenha provocado um escândalo já é uma mostra do grau de corrupção em que anda a grandiosa democracia americana. A candidata do lobby da guerra vai vencer e a mídia americana, mais uma vez, terá sangue árabe nas mãos. Não é difícil prever.
Do Facebook do Autor [http://bit.ly/2eL1k7d]: 25/10/16.
Idelber Avelar. Ph.D. Spanish and Latin American Studies (Duke University). Professor na Tulane University (New Orleans).
Imagem: Latuff 2016/Wikileaks