Em Conjuntura Internacional, Destaques

Na coluna anterior (A natureza da economia chinesa: http://bit.ly/1qQ9aRQ), chamei a atenção para o conflito de posições que marcará a agenda internacional de 2016, em torno da natureza da economia chinesa. Na coluna de hoje, procurarei descrever o estado dessa economia, conforme a explicam os dirigentes chineses. Começarei com o Primeiro Ministro Li Keqiang buscando tranquilizar os mercados financeiros estrangeiros, na sessão de 2016 do Congresso Nacional do Povo (CNP), iniciada a 5 de março. O governo de Pequim – enfatizou Li – tem plena capacidade de levar adiante as reformas e abertura às leis do mercado, em que se empenha a China na substituição do seu velho modelo de crescimento, por um novo modelo apoiado no consumo interno e nos serviços. Um crescimento do PIB entre 6.5% e 7,0% anuais – continuou Li – é a nova realidade; realidade buscada, não o colapso propalado pela mídia internacional, com apoio em análises pessimistas. “As reformas do lado da oferta, com seus cortes de impostos, vão gerar novos impulsos de crescimento, mas em vez de recorrer a amplas medidas de incentivos, optamos agora pelo caminho econômico mais sustentável, embora mais doloroso, das reformas estruturais.”

A principal tarefa da sessão de março de 2016, do CNP, foi aprovar o XIII Plano Quinquenal (2016-2020), elaborado pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (CNDR) como o primeiro plano quinquenal da administração de Xi Jinping. Vale dizer, como um esforço de alinhamento com as diretivas aprovadas no III Pleno do Comitê Central da Quinta Geração (Nov. 2013). Vinha-se tornando claro que a China não estava alcançando os objetivos fixados no XII Plano Quinquenal, no tocante em particular à proteção do meio ambiente e à produção de energia. Medidas corretivas foram tomadas no novo plano, visando ao aprimoramento da eficiência no uso da energia e à proteção ecológica. De forma mais focalizada, importantes correções foram introduzidas na produção e uso do carvão e do aço. Imediatamente após o encerramento do CNP, como acontece desde 2000 por iniciativa de Zhu Rongji, reuniu-se em Pequim o Fórum de Desenvolvimento da China (FDC), um conclave de alto nível, no qual quadros do Partido e do Estado, além de acadêmicos, discutem com empresários e acadêmicos estrangeiros estratégias e políticas para a China. O Professor Stephen S. Roach, da Yale, acompanhou os três dias do último FDC, por ele julgado (O Estado de S. Paulo. 31/03/16): “Minha sensação é de que o FDC-2016 foi particularmente rico em suas estratégicas implicações para os assustadores desafios econômicos da China.” Para Roach, o XIII Plano Quinquenal, a ser aplicado a partir de agora, trará uma ampla variedade de reduções de taxas, cujos efeitos irão desde a diminuição de capacidades excessivas e alavancagens, até melhorias na inovação e na produtividade.

Inovação e produtividade. É praticamente consenso, no mundo dos economistas, que a economia chinesa superará em volume a americana, aí por volta de 2028. Um grande percurso já foi coberto. A China é o maior mercado mundial para dezenas de produtos, desde automóveis a roupas infantis. Com mais de três trilhões de dólares nos cofres do tesouro, detém as maiores reservas de divisas do planeta. Supera de longe os EUA nas trocas internacionais: dos 180 países com os quais americanos e chineses comerciam, a China é o maior parceiro de 120 deles, alguns inclusive importantes aliados políticos e militares dos EUA. Com tudo isso, e conforme salientam os professores Pankaj Ghemawat e Thomas Hunt (“Can China’s Companies Conquer the World?”, in Foreign Affairs, March/April 2016), a China deixa a desejar em matéria de inovação e produtividade. Por baixo daqueles números que a põem na dianteira, a China claudica no tocante à força das corporações e das indústrias. Para a China chegar a ser a economia mais poderosa do mundo, suas companhias terão de aprender a brilhar em setores de bens de capital e alta tecnologia muito mais competitivos do que os atuais. Os chineses têm dado passos expressivos em setores responsáveis por 25% das suas exportações. Produtores chineses controlam entre 50 e 75 por cento dos mercados globais (a China inclusive) de containers marítimos, guindastes portuários e equipamento para a produção de força a partir do carvão; entre 15 e 30 por cento dos mercados globais de equipamentos para telecomunicações, turbinas eólicas terrestres e sistemas ferroviários de alta velocidade. Todavia, em setores que conformarão o século XXI, a China precisa de muita tecnologia de fora. Transnacionais não chinesas ainda dominam partes vitais do mercado doméstico de bens de capital avançados.

Imagem: annexasia.com

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