Em Conjuntura Internacional, Destaques

Tolhido no plano doméstico pela hostilidade maciça dos republicanos, com seu controle do Congresso, Barack Obama vem surpreendendo aliados e adversários ao explorar criativamente possibilidades de avanços no quadro geopolítico mundial. “Diante dos que o odeiam” – escreveu no New York Times (20/12/14) o estrategista político Charles D. Ellison – ”Obama ainda é o senhor do tabuleiro geopolítico (…). É nesse ambiente, onde tudo se move lentamente, que Obama prefere deliberar.” Dois exemplos expressivos dessa atuação foram (1) as manobras de Obama para evitar a intervenção por terra de tropas americanas na guerra civil na Síria, e que levaram a ajustes diplomáticos com Vladimir Putin, em torno das armas químicas usadas nesse conflito; e (2) a assinatura em Genebra (novembro 2013) de um acordo provisório entre o G5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança mais a Alemanha) e o Irã, em torno do programa nuclear iraniano. Simultaneamente com o anúncio desse acordo provisório, a Associated Press divulgou a existência de negociações secretas paralelas, entre membros da equipe de Obama e governantes iranianos, inclusive com a participação do Presidente na redação de cláusula que permitirá ao Irã enriquecer urânio.

Em novembro de 2014, Obama viajou a Pequim. Ostensivamente para participar da sessão plenária da APEC, seguida de uma visita de Estado à China, mas em nível mais profundo para acertar os ponteiros com o Presidente chinês, Xi Jinping. O mundo entrou em fase madura da globalização, marcada pela interdependência de múltiplas entidades sem que nenhuma delas predomine absolutamente. Mesmo os EUA e a China, as superpotências do momento, não podem enfrentar sozinhos os grandes desafios globais. No encontro de Pequim, Obama e Xi lograram arrematar uma negociação, que se arrastava em segredo, com vistas a cortes significativos nas emissões de gases estufas nos seus respectivos países. Obama obteve também a anuência da China em eliminar mais de 200 categorias de tarifas, desentravando com isso a negociação em marcha, sob a égide da OMC, de um tratado para expandir o comércio de produtos no setor das tecnologias da informação e comunicação (ITA, na sigla inglesa). Importantes ajustes foram ainda obtidos no terreno militar, inclusive para a realização de manobras navais conjuntas.

As jogadas geopolíticas de Obama caracterizam-se por um lento trabalho em segredo, eventualmente buscando a ajuda de mediadores como o Canadá ou o Papa. Também pela criação de fatos nos limites da autoridade presidencial, de modo a dificultar tentativas de reversão legal no Congresso. É ainda válido registrar a atenção dada ao robustecimento chinês, com as consequentes dinamizações do Leste Asiático e do Pacífico Norte e a expansão da presença chinesa em antigas áreas de dominação americana. Tudo isso está evidente na mais recente e impactante iniciativa do Presidente americano: o descongelamento das tensões entre os EUA e Cuba. Conforme acentuou o Professor José Luis Fiori (Valor Econômico, 23/12/14), a questão cubana ganhou premência para os EUA com a “chegada” econômica da China ao continente sul-americano, ao Caribe e à América Central, em particular depois do anúncio de que vai começar a construção, com financiamento e direção chineses, do novo Canal Interoceânico da Nicarágua.

O acima citado Charles D. Ellison comentou sobre a aproximação com Cuba: “Não só o aguerrido Presidente rasgou e depois queimou os prematuros obituários políticos publicados a seu respeito no mês passado, como também provocou a explosão de uma das maiores bombas geopolíticas da história (…). Não só Obama ainda é importante, como medidas como essa mostram que ele continua presidente e ainda pode provocar impactos.”


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