Em Conjuntura Internacional, Destaques

O analista americano Sthephen Roach, com grande vivência da China, circulou em fins de março suas anotações sobre o 15º Fórum de Desenvolvimento da China (FDC), evento anual criado em 2000 pelo ex-premiê Zhu Rongji, e no qual autoridades chinesas de alto escalão debatem com acadêmicos e executivos vindos do exterior. Os chineses – acentua Roach – estão seriamente empenhados em melhorar o equilíbrio entre o planejamento central e o papel do mercado, afastando-se de sua antiga ênfase em metas de crescimento. O governo ressalta agora três objetivos macroeconômicos: emprego, estabilidade de preços e alta do PIB.     “Isso dá à China e a seus políticos uma margem de manobra considerável para lidar com a desaceleração atual. Diferentemente da maioria dos observadores ocidentais, que se fixam no mais leve desvio da meta de crescimento oficial, as autoridades chinesas têm uma mente muito mais aberta. Elas se importam menos com o crescimento do PIB em si e mais com o conteúdo laboral dos ganhos de produção. Isso é particularmente relevante à luz do patamar agora atingido pela transformação estrutural da economia chinesa – a muito esperada virada para uma dinâmica de crescimento puxada pelos serviços.” A mensagem transmitida pelo último FDC, ainda segundo Roach, foi a de que não há razão para pânico diante de 7.5% de crescimento, quando a economia é capaz de absorver 13 milhões de trabalhadores (2013).

Conforme contei na coluna anterior, o governo de Xi Jinping baixou um pacote de 60 diretrizes para enfrentar a virada de modelo. O alvo é ter 60% da população
total vivendo em áreas urbanas até 2020, com  45% deles na posse de um pleno certificado de residência (no momento, apenas 36% dos urbanitas possuem tal certificado). Os dirigentes da Quinta Geração têm reconhecido que isso ainda deixará uma grande massa de “cidadãos de segunda classe”, com potencial desestabilizador, e introduziram dispositivos voltados para a “gradual eliminação” da causa central do problema: o sistema hukou, em vigor desde a década dos 1950. The Economist ocupou-se do assunto (22.03.14), apontando duas fraquezas da nova política. Primeiro, o hukou será prioritariamente liberalizado nas cidades com menos de cinco milhões de habitantes, mas a massa dos novos empregos está sendo criada nas 16 cidades de população superior. Segundo, há uma grande hesitação da parte dos migrantes em aceitarem o certificado de residência urbana na medida em que não vêem nele uma garantia de seguridade social. “Os sistemas assistenciais são tão novos”, comenta o semanário, “que os migrantes têm dúvidas sobre se poderão efetivamente beneficiar-se dos seguros de desemprego ou das pensões prometidas se mudarem de cidade. Ficam então com um pé na aldeia, sem efetuar a ruptura com o campo. Inclusive porquê ainda não obtiveram plena liberdade para vender seus lotes.”

Outro conhecido analista ocidental que participou do 15º FDC foi Timothy Garton Ash, das Universidades de Oxford e Princeton. Suas observações, circuladas na imprensa mundial, elogiam “o extraordinário experimento político” lançado por Xi Jinping, “que busca fazer da China uma economia avançada e uma superpotência, canalizando energias do capitalismo, do patriotismo e das tradições chinesas”, sem, no entanto, abandonar o caráter de um Estado leninista (sob o controle do PCC). Para operacionalizar esse experimento, foram criados quatro “pequenos grupos de liderança”: reforma econômica; segurança do Estado; reforma das Forças Armadas; e Internet. O hábil Premiê Li Keqiang – acentua Timothy Ash – enfrenta com segurança os assustadores desafios do setor econômico: o crescente ônus da dívida; a bolha imobiliária; e a demanda excessivamente reduzida do consumo interno. Tudo considerado, Ash refugia-se na prudência tradicional dos observadores da China: são iguais as chances de que o experimento chinês dê certo ou dê errado. A possibilidade de êxito estará como sempre na qualidade da governança.

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