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Por Gilberto Maringoni  

Meirelles não era Meirelles. Meirelles era Lula. Mais ou menos como Matraga, que de início também não era nada, no conto de Rosa. 

Meirelles era o presidente mundial do BankBoston, desconhecido de mais de 99% dos brasileiros. Era um deputado federal recém-eleito, na ponta de campanha milionária em Goiás, pelo PSDB. Isso era 2002.

Quem inventou Meirelles para o grande público foi Lula, ao torná-lo o mais longevo presidente do Banco Central, desde sua criação, em 1964.

Lula também lhe concedeu algo impensável anos antes. Deu status de ministro de Estado ao presidente do BC, a partir de 2005.

Para realizar esse feito, Lula jogou todo seu prestígio de 35 anos de História nos ombros do banqueiro. Meirelles, que não tinha densidade política alguma, ganhou sua dose de poção mágica.

O banqueiro concretizou aquilo que marca o núcleo duro do lulismo, política econômica conservadora, com discurso social progressista. Se Lula dava legitimidade ao ajuste propugnado pela dupla Meirelles-Palocci, entre 2003 e 2005, o goiano lhe proporcionava respeitabilidade diante dos chamados mercados.

O sucesso daquilo que entrará para a história como a inclusão social do petismo – 2005 a 2010 – não se deu pela ação de Meirelles e de sua política monetária contracionista, mas por algo incontrolável por qualquer governo brasileiro, a demanda externa por commodities.

Meirelles foi também o predileto de Lula para o lugar de Joaquim Levy, no governo Dilma. Em certa medida, foi a melhor tradução do petismo real no terreno econômico.

Michel Temer só cogita nomear Meirelles para o ministério da Fazenda por sua dimensão política. Por ser alguém já calejado na disputa pela confiança dos agentes financeiros.

Meirelles não mudou. Exigiu, para assumir, a nomeação de um presidente do BC com ele alinhado. Implantará um ajuste ainda mais duro e ortodoxo. Nada que não faria sob Dilma.

Meirelles representa algo novo, além disso: a quebra de intermediários entre o capital e a institucionalidade política. Lula não poderia colocar um economista no BC, aos se eleger, em 2002, A confiança dos mercados somente seria obtida não com um preposto, mas com um deles, em pessoa, no comando.

Temer, carente de legitimidade, lança mão do mesmo expediente. Pode indicar os fisiológicos do Congresso para qualquer posto. Mas a economia é do capital.

Por isso, o pleito de José Serra, para cuidar da área, deu em nada. O momento de crise profunda não comporta alguém que faça mediações.

Devemos isso tudo a Lula. No coração do governo golpista, o que prevalece é uma criatura sua, com sua concepção de economia e de legitimidade.

Do Facebook do Autor: 08/05/2016. 

Gilberto Maringoni. Jornalista e Cartunista. Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC.


Imagen: Zé Carlos Barretta/Folhapress

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