Em Destaques, Vida Nacional

Por Roberto Moraes

Difícil acreditar em coincidência. Porém, na segunda-feira, dia seguinte ao golpe parlamentar-midiático-jurídico na Câmara Federal, em Brasília, uma outra câmara, a de Comércio Brasil-EUA estava reunida no Harvard Club, Nova York, EUA.

Discutiam a economia brasileira, crises e oportunidades. Presentes representantes de consultorias e bancos americanos e brasileiros, junto com antigos aliados nas universidades do Brasil e dos EUA.

Exemplos: consultoria Vernbank interessada na área de agricultura; Banco Safra intermediando ligações na área de petróleo; gente do FMI, Peterson Institute, etc.

Temas: reformas diante da redução do PIB, desvinculação de gastos do Orçamento (DRU ampliada) para tirar recursos hoje garantidos para educação e saúde, rever pagamento de pensões, elevar idade de aposentadorias para ter recursos para reforçar ainda mais o superávit. Mudar a constituição no que preciso for para aproveitar o momento.

Outro tema forte foi sobre os problemas e oportunidades na área de petróleo. Prioridade vender os ativos com a alegação de que precisa reduzir as dívidas. Aproveitar o momento e também acabar com regime de partilha e abrir e escancarar o pré-sal para as petroleiras americanas.

Ou seja, a Câmara de Comércio EU-Brasil, representando a burguesia industrial e financeira paulista foi lá vender o país, em troca de taxas de correção do negócio numa aliança rentista entre os capitais americanos e os brasileiros. Uma tabelinha com as conversas de bastidores que o senador Aloysio Nunes foi lá bater continência em nome da trinca: Temer-Serra-Cunha.

Exatamente aquilo que o FHC passou a defender a partir do momento que passou a negar a Teoria de Dependência.

Assim, eles assumem a condição de garantia da subordinação, numa espécie de negociação da dependência deste que seja garantido a esta burguesia econômica, um percentual nesta coligação rentista, a partir dos novos negócios americanos em nossos territórios, que se ampliarão no governo que esperam com Temer-Cunha.

Os escrúpulos? Às favas, como disse em 1968, Jarbas Passarinho ao concordar com o AI-5. Por aqui, o Cunha segue fazendo ampliando o que seria seu trabalho apenas na Câmara, pressionando o Senado e o STF, já acovardado para entregar-lhes o poder.

Tudo de forma escancarada. Sem precisar de telegramas de embaixada e nem do Wikileaks.

Há muito a elite nacional abandonou a ideia de um projeto de Nação e enxerga apenas negócio. Sem nenhum escrúpulo e nem pudor os golpistas-rentistas querem apenas o seu.

Por isso, anistiar Cunha é devolver a parte dele na renda já recebida antecipadamente. A turma de Curitiba e a Lava-Jato vão lavar as mãos como na Itália.

Os inocentes úteis da classe média nacional que pensam ser parte da elite ainda quer debater o sexo dos anjos, depois de aceitar o estrupo.

FB do Autor: 18/04/2016.

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Roberto Moraes. Engenheiro e Professor do IFF (ex-CEFET).

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