Por Ricardo Kotscho
Depois de ler e ouvir tudo o que se escreveu e falou sobre as manifestações de domingo, em todas as plataformas, para melhor resumir a ópera fico com o comentário enviado ao Balaio pelo leitor H. Menon Jr., às 9h48 desta segunda-feira:
“Quem, afinal, estará levando vantagem com isso tudo? Se você pensou em Sergio Moro, acertou em cheio”.
De fato, o juiz da Lava Jato foi a única liderança política (será que alguém ainda duvida disso?) que sobreviveu incólume ao tsunami do ronco das ruas que sacudiu o País de norte a sul para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff e protestar contra o ex-presidente Lula, o PT e a corrupção.
Tratado como herói, Moro virou uma unanimidade nacional, enquanto representantes de partidos políticos de oposição eram hostilizados. Como um astro pop, seu nome aparecia em camisetas, cartazes e faixas escritas, curiosamente, em inglês: “In Moro We Trust!” (“Em Moro nós confiamos!”).
O próprio juiz Moro, quando as manifestações ainda não haviam nem terminado, sem se fazer de rogado diante de tanto apoio popular, soltou uma nota para a imprensa em que faz um repto aos políticos: “Importante que as autoridades eleitas e os partidos ouçam a voz das ruas e se comprometam com o combate à corrupção, reforçando nossas instituições e cortando na própria carne”.
Já faz algum tempo que uma velha amiga me chamou a atenção para a crescente popularidade de Moro, que virou um símbolo do combate à corrupção, como pudemos ver durante o dia todo nas transmissões ao vivo dos atos de protesto por toda parte.
Para ela, na falta de outras alternativas mais viáveis e confiáveis, grupos de oposição ao governo do PT poderiam investir na construção de sua candidatura presidencial para as próximas eleições, sejam elas quando forem.
Achei que a amiga estava exagerando, e não levei esta possibilidade a sério, mas agora começo a pensar que, no começo de 1989, nas primeiras eleições diretas para presidente, após o fim da ditadura, quase ninguém levava a sério a candidatura do governador alagoano Fernando Collor, apresentado por grandes grupos de comunicação como o “caçador de marajás”, também um outsider pinçado fora do elenco de partidos e políticos tradicionais.
É óbvio que as trajetórias e biografias de um e de outro nada têm em comum, a não ser o fato de que, neste momento, uma grande parcela da população também está à procura de um salvador da pátria. Ficou evidente no domingo que estamos chegando ao fim de um ciclo político, mas ninguém sabe ainda o que quer colocar no lugar. Foi um divisor de águas, mas é cedo para dizer que o Brasil nunca mais será o mesmo depois do 13 de março. Já ouvi isto outras vezes e, como sabemos, continuamos os mesmos.
Assim como minha neta de 10 anos, outro dia, também o dentista, que foi aos protestos, me perguntou hoje em quem eu votaria se tivéssemos novas eleições amanhã. Não soube responder, nem ele, quando lhe fiz a mesma pergunta.
A carência de lideranças políticas é tamanha que, quando nos fizemos esta pergunta numa roda de jornalistas semanas atrás, não surgiu nenhum nome entre os que aparecem nas pesquisas. Diante disso, resolvi lançar a candidatura do Heródoto Barbeiro, argumentando que ninguém tem nada contra ele. “Nem a favor”, respondeu-me, quando lhe contei a história, descartando sumariamente a ideia.
Se o Heródoto não aceita, quem o caro leitor indicaria na eventualidade de termos novas eleições?
Tá ruço!
Vida que segue.
Balaio do Kotscho:14/03/2016.
Ricardo Kotscho. Jornalista.
Imagem: diariodocentrodomundo.com.br; tribunadonorte.com.br