Em Conjuntura Internacional, Destaques

Estive agora relendo uma boa parte da massa considerável da documentação que guardo nos meus arquivos, do período em que chefiei o Consulado Geral do Brasil em Rotterdam, quando durante seis anos acompanhava de perto o jogo global em torno do petróleo, do gás natural, do carvão e da energia nuclear (urânio) e produzia o boletim Comentários de Rotterdam e dei-me conta de que eles conservam-se em geral vivos, capazes de transmitir uma visão útil de como vinha marchando, na década dos 1980, a grande problemática da energia. A meio caminho entre a eclosão da Crise da Energia dos anos 1970 e a situação dos dias de hoje, em que os problemas se complicaram, mas nada foi realmente resolvido. Os comentários transmitem uma visão pessoal, mas bem informada, daquele jogo global, graças ao acompanhamento diário do mesmo, através da imprensa internacional, de cartas semanais, revistas especializadas e livros, além das conversas com especialistas. Permitem, em suma, que se vislumbrem arcanos da Crise da Energia e se obtenham elementos de compreensão das rivalidades de hoje. Pareceu-me, então, que poderia haver interesse em publicar uma seleção de comentários, dentre os dedicados ao petróleo, inicialmente. [Excertos da Nota do Autor do livro Nos porões da crise da energia, diplomata Amaury Porto de Oliveira.]

O maior pânico econômico internacional da era industrial ocorreu durante a década de 70 do século passado devido ao embargo do petróleo imposto pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo, OPEP. A sociedade, a academia, as nações procuravam inutilmente entender a complexa condição geopolítica que controlava então a comoção.

A década seguinte se caracterizou pelo esforço do ocidente para desvendar os mecanismos políticos e econômicos que haviam gerado a crise do decênio anterior. No Brasil, mal equipada para desvendar esse enigma, a comunidade acadêmica tanto quanto a técnica especializada em energia, permanecia atônita, paralisada pela própria ignorância sobre a intrincada rede geopolítica responsável pela convulsão econômica internacional, pois não havia previsões confiáveis sobre o porvir. O Brasil, seduzido pelo baixo e aparentemente estável preço do abundante petróleo, havia postergado investimentos em prospecção e extração do óleo cru. E, com isso, sua dependência em relação ao fornecimento externo era enorme. A conjuntura era, portanto, ainda extremamente ameaçadora, embora menos grave do que fora na década de 70.

Foi nestas circunstâncias de vulnerabilidade e incapacidade de previsão que oportunamente começaram a circular nos circuitos pertinentes os “Comentários de Rotterdam”, que progressivamente com a precisão cirúrgica dos grandes analista políticos informava à intelectualidade brasileira preocupada com as questões de energia, sobre os procedimentos correntes internacionais. Se nem sempre eram alentadores os relatórios proporcionados pelo Diplomata Amaury Porto de Oliveira, sediado no coração do Comércio do Petróleo, teríamos pelo menos uma sentinela avançada a nos informar sobre os movimentos da guerra do petróleo.

Poder-se-ia argumentar que os anos 70 e 80 pertencem ao passado. Este seria um equívoco tão grande quanto aquele perpetrado antes, durante os anos, ou melhor décadas, que precederam os choques de 73 e 75 do Petróleo, pois a leitura geopolítica é a mesma que a de então. Atores podem ter mudado de papel, mas a trama política e econômica permanece. Eis por que os penetrantes e agudos Comentários de Rotterdam se tornam imprescindíveis hoje, mais do que o foram na década de 80.

Nenhum macro economista, nenhum estudioso da geopolítica da energia pode deixar de ler e estudar esta coletânea de artigos coerentes entre si, a menos de permanecer ignorantes sobre uma ameaça que paira sobre o futuro, e mesmo o presente do país.

Leia o Posfácio da obra


Imagem: unicamp.br

 

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