Em Destaques, Vida Nacional

Por André Araújo

Esse é o plano Meirelles-Goldfajn. Fortalecer o Real, acabar com a inflação e deixar a economia em ruína profunda. Não é uma opção deles, é a única coisa que eles sabem fazer, não tem outra receita.

Aplicar medidas restritivas para baixar a demanda em uma economia em recessão é o mesmo que fazer uma dieta radical de emagrecimento para um doente tão fraco que não pode andar. Parece loucura do médico, mas é exatamente isso que os dois comandantes da economia estão fazendo, sob aplausos do mercado financeiro. Nem economistas monetaristas americanos assinam uma receita dessas. E porque então a dupla faz assim? vou repetir, ELES NÃO CONHECEM OUTRA FÓRMULA.

Hoje a visão moderna do pensamento econômico pós 2008 é uma combinação de medidas compensatórias e de estímulo para evitar surtos inflacionários mas ao mesmo tempo ativar a economia para que ela apresente crescimento.

Receitas de AUSTERIDADE PURA, A SECO, ninguém está aplicando no mundo, só o Brasil. O sonho é apostar no investimento estrangeiro através da restauração da confiança, que é apenas uma crença, não há nada no atual quadro mundial que aponte essa fórmula como base de um plano econômico para destravar o crescimento. Uma economia ESTIMULADA PARA O CRESCIMENTO necessita de gente querendo comprar e não encontrando mercadoria. É isso que puxa o crescimento. Que faz as empresas contratarem mais empregados e em segundo tempo comprarem máquinas. E para querer comprar precisa ter DINHEIRO NO BOLSO. Para ter dinheiro no bolso precisa ter EMPREGO. E para existir emprego é preciso que alguém esteja vendendo ou construindo alguma coisa. Para construir, o governo precisa encomendar obras.

O investidor não vai ser estimulado apenas porque a inflação está baixa, o investidor precisa sentir que vai ter lucro porque seu produto tem grande mercado a ser atendido e isso não é sinalizado porque a inflação está baixa. Sem isso não se saiu da recessão. Vai causar inflação? Pode ser que sim e pode ser que não. Se causar será pouco e um preço modesto para sair da recessão, doença muito mais grave que a inflação.

O fato é que o Estado brasileiro não pode apostar a totalidade das fichas em um plano tão restrito como esse. O lógico seria o Governo ter assessoramento independente, um painel de cinco grandes economistas mundiais, de correntes diversas, o Presidente dos EUA tem um super grupo de assessoramento, o Conselho de Assessores Econômico da Casa Branca*. O Presidente dos EUA não fica na mão do Fed e do Secretário do Tesouro, tem outras análises, independentes dos burocratas da economia.

O Brasil deveria fazer o mesmo, dado a crise política poderia contratar cinco economistas de prestígio mundial para ajudarem e alertarem a Presidência, um doente grave consulta mais de um médico antes de uma operação. O destino inteiro de uma grande nação depende de uma política econômica a mais racional possível, e isso não está na cabeça de apenas duas pessoas, ambas do mercado financeiro. É preciso muito maior diversidade de opiniões entre grandes economistas para se extrair uma média consensual, nem Meirelles e nem Goldfajn são grandes economistas com ideias brilhantes.

Com 12 milhões de desempregados não dá para apostar todo o futuro em uma só ficha, é arriscado demais.

A propósito, como é que num plano de AUSTERIDADE não se vê uma única condenação a supersalários de servidores públicos, são milhares de aristocratas do funcionalismo ganhando 80, 100 ou 200 mil Reais por mês através de truques que se somam aos salários, especialmente nos poderes Legislativo e Judiciário. O corte pode ser feito por um simples decreto com base na Constituição e atacando frontalmente os “auxílios” que multiplicam o salário-base por 3, 4 ou 5 vezes e depois esses vencimentos rebrotam nas aposentadorias integrais milionárias. Como se pode cortar despesas de pobres deixando intactos essas minas de dinheiro pago com impostos de todos?

* https://www.whitehouse.gov/administration/eop/cea/about

Jornal Online GGN [http://jornalggn.com.br/]: 08/07/2016.

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André Araújo. Advogado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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