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Por Cláudio Guedes

“1. É verdade que o PT não tem sido nada feliz nem no governo, nem fora dele. Um dos problemas da presidente Dilma é esse: não possui retaguarda política. E a oposição, a única parte dela que pensa de forma estratégica, FHC, percebendo a fraqueza do PT, desde o início do ano poupou o partido e mirou no Lula. Abriu a temporada de caça ao Lula, aos filhos do Lula, às noras do Lula, pelos seus áulicos na mídia dominante. O movimento de FHC, no xadrez da política, tinha objetivo claro: desgastar o líder petista para enfraquecer a Dilma, principalmente se o impeachment viesse a ser admitido, e aplanar o caminho dos tucanos para 2018, com Aécio, o seu preferido.

2. Aécio, que se move de forma caótica, agora resolveu de bate-pronto embarcar no impeachment, seguindo seu mentor FHC, que de Lisboa já aderiu à manobra de Eduardo Cunha. Agora ambos buscam atrair o vice-presidente Michel Temer, velho conhecido dos tucanos paulistas. Alckmin e Serra, mais preocupados com a luta interna, parecem que vivem em outro mundo e estão primeiro sentindo a “direção do vento” para se posicionarem.

3. A manobra de FHC/Aécio é arriscada pois, se no xadrez da política nacional o PMDB sempre foi a noiva mais disputada, por petistas e tucanos, hoje o velho partido do Dr. Ulysses está mais que dividido entre governistas e os que apoiam Cunha e sonham com a alternativa Temer presidente.

4. Caso a aliança pelo impeachment de Cunha+Aécio+Temer se configure e o PSDB embarque nessa canoa com todas as suas forças, as máscaras terão finalmente caído e não necessariamente será ruim para a vida política do país. Teremos uma definição.

5. O governo e a presidente Dilma terão um bloco forte contra si, mas abre-se um espaço interessante, no lado governista, para uma aliança PT+PSB+PDT+dissidentes do PMDB+partidos menores, o que pode significar um pequeno salto de qualidade para o governo tão desgastado da presidente. A vantagem de Dilma para montar a sua defesa do impeachment é que no tabuleiro do parlamento ela precisa apenas de 1/3 dos votos e os que vão tentar afastá-la de 2/3 + 1. É uma boa vantagem, mas não basta.

6. A contagem no parlamento é decisiva, mas a batalha na sociedade também. O PT precisa sair das cordas, Lula, desgastado, não poderá ter o papel decisivo, mas ainda será um protagonista essencial. É um grande articulador e, para sorte de Dilma, faz um boa dobrada com Jaques Wagner, que deverá ser o nome principal da defesa do governo. Ambos precisam neutralizar o principal articulador das oposições, ele, FHC. Por que os petistas & seus aliados o poupam? Acho que o fazem porque não conseguem enxergar que o condestável de Higienópolis é o comandante de fato das oposições. E, portanto, deveria ser combatido. Diretamente combatido. É preciso trazer à público a hipocrisia de um ex-presidente que se comportou de forma moralmente condenável enquanto no poder e, hoje, se coloca no papel de juiz de presidente e de ex-presidente. FHC violou a Constituição em causa própria e corrompeu-se para fazê-lo. FHC encobertou a corrupção de seus familiares, amigos e aliados. Que moral tem ele para julgar os seus pares?

7. Uma outra linha a ser trabalhada pelo PT & aliados é a aberta pela truculência em São Paulo (na linha dos episódios chocantes da repressão aos professores pelo governo do PSDB do Paraná em abril passado), na impressionante “guerra” do governo paulista ao direito de manifestação dos jovens estudantes. Ao tentar empurrar goela abaixo da sociedade paulista uma reforma educacional mal pensada, mal articulada e mal planejada, os tucanos esperavam contar com a passividade que tem sido a regra e norma no estado. A reação dos jovens em defesa da escola pública escancarou o encoberto: o desprezo do PSDB à democracia e aos movimentos sociais.

8. E, nesse ponto, apesar de seus múltiplos pecados, o PT & aliados possuem créditos visíveis. A presidente Dilma e os membros do seu governo, muitas vezes escorraçados e agredidos de forma torpe e vil, nunca fizeram nada contra os seus agressores. Nem nunca comandaram repressão a movimentos sociais. Lição de tolerância democrática. Precisam usar este crédito, agora. É um diferencial.

9. O que está em jogo é algo mais do que a manutenção de uma governo. Os derrotados, por incompetência própria, no pleito de 2014 não podem ser agraciados com o poder que lhes foi negado pela soberania popular. Por quê? Porque é imoral, porque não é legítimo. Porque é uma questão de respeito à democracia.

10. Os que querem o poder no tapetão estão aliados com as forças mais conservadoras e autoritárias da nação. Não são uma opção saudável para o comando do país. Difícil com Dilma, muito pior com eles. O que está em jogo é uma concepção de vida democrática”.

Da página do autor no Facebook: 05/12/15.

Cláudio Guedes. Engenheiro.


Imagem: José Cruz/ABr

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