Em Destaques

Os mamelucos, os escravos liberados que dominaram grande parte do mundo árabe, do Egito a Síria, desde meados do século XIII até começos do XVI dão uma lição de sobrevivência que deveria servir às Universidades e Instituições de pesquisas brasileiras.

Os mamelucos viviam, principalmente, do comércio de dois insumos, especiarias provenientes da Índia e China e escravos vindos principalmente de tribos que habitavam o Cáucaso. Os Emires e Sultões possuíam academias que treinavam os escravos em artes marciais e islamismo. Quando prontos eram liberados e integravam os respectivos exércitos. Podiam então se casar com as moças locais. Aparentemente não eram trazidas escravas em quantidade suficiente. A classe dominante era, portanto, composta de ex-escravos. Emirados lutavam entre si e o poder no seio de cada exército era compartilhado com os mamelucos.

O que há de espantoso nesta estranha organização social é uma regra insólita. Filho de mameluco não pode ser mameluco, mesmo que este fosse um Emir. A continuidade da Dinastia era assegurada pelo fluxo contínuo de novos escravos. Mas qual o propósito de tão extravagante legislação? Afinal, humanos e mesmo outros animais, superiores ou não, protegem a sua prole acima de tudo. Reis se fazem suceder pelos príncipes, seus filhos. Seria uma violação do imperativo biológico o gene egoísta de Dawkins fora de ação. Por outro lado, a História está cheia de exemplos em que sucessores de líderes de sucesso fracassaram estrondosamente. Embora haja casos em que o descendente supera o progenitor, tais como os exemplos de Pepino o Breve (nanico) e seu filho Carlos Magno, Felipe II e Alexandre de Macedônia, Elizabeth I e Henrique VIII. Mas estes e outros exemplos são raros. Além do mais, poder-se-ia perguntar: e os descendentes dos descendentes, em que deram? Os mamelucos com sua extravagante estratégia apenas evitavam um mal devastador da sociedade em geral, que é a endogenia (in-breeding), mãe da mediocridade e do corporativismo.

Universidades americanas e europeias desenvolveram mecanismos para neutralizar essas perversões. Alunos de pós-graduação de outras Universidades têm marcada preferência sobre alunos provenientes da própria Universidade. Programas de pós-doutoramento excluem alunos da mesma Universidade. Assistentes são contratados dentre os pós doutores de outras Universidades. Se um professor associado é brilhante terá que migrar para outra Universidade, provar lá sua competência, para poder voltar mais tarde como professor titular. E somente nesta última posição adquiriria, eventualmente, uma relativa estabilidade (tenure).

Nas Universidades brasileiras o sistema vigente de concursos públicos serve apenas para acobertar, ou melhor, legitimar a endogenia. E esta é uma das razões do perene e inerentemente baixo rendimento das Universidades e Instituições de Pesquisas brasileiras.


Créditos de imagem: urukia.com

Facebooktwitter