Em Conjuntura Internacional, Destaques

Por Roberto Moraes

Vimos com alguma frequência comentando sobre a expansão que o gás natural está tendo na matriz mundial de energia. Segundo as previsões da Agência Internacional de Energia (AIE), em 2040, o gás que hoje tem 21% de participação, chegará a 24%, enquanto o petróleo descerá sua participação dos atuais 31% para 26% em 2040.


Contribui para isto, o relativo “barateamento” do processo de liquefação do gás natural que é realizado quando se pretende transportá-lo a longas distâncias por navios. Antes, este transporte era feito unicamente por gasodutos. Assim, é comum que os próprios navios-gaseiros reconvertam o GNL (Gás Natural Liquefeito) em gás, junto ao ponto de consumo e ou distribuição em vários lugares do mundo.

Diagrama da liquefação do gás – GNL ou LGN

Assim, os EUA começaram, no ano passado, a entrar no jogo geopolítico, exportando para alguns países europeus o gás, que antes era, praticamente, dependente da Rússia.

É neste contexto que os EUA, usando ainda a produção da suas reservas de shale gas (gás de xisto) ampliou a produção, e agora avança na exportação. Assim, os EUA, que é o maior consumidor de petróleo + gás do mundo, passou a exportador líquido de gás natural.

Neste último mês os EUA exportaram em média (segundo informações da A& P Global Platss, divulgada pelo Wall Street Journal) 209,5 milhões de m³ de gás, contra uma importação de 198,2 milhões de m³ de gás.


Desta forma, até Israel com o seu minúsculo território, vem ampliando os investimentos na exploração e produção de gás natural nos últimos anos, tendo atingido recentemente reservas avaliadas em cerca de 2,1 trilhões de metros cúbicos de gás, e agora já estuda novas formas de aproveitamento do insumo. Para melhor uso do gás natural, a cientista-chefe do Ministério Nacional de Infraestrutura, Energia e Recursos Hídricos de Israel, Bracha Halaf está interessada em parcerias com o Brasil.

O gás é uma fonte bem mais limpa que o petróleo. Interessante que as suas reservas [na maioria dos casos] estão nos mesmos campos, embora existam campos que produzam, exclusivamente gás, como na Rússia, Argentina e outros países. Desta forma, o transporte à longa distância com navios ajuda a mudar este quadro, como já se comentou aqui várias vezes.

Pois bem, diante deste quadro real na geopolítica da energia, o que faz o Brasil e a Petrobras? Passou a vender seus ativos no setor como se estivesse num momento de “xepa” na feira. Assim, vem desregulando o setor que passará a ser controlado por grandes corporações de gás do mundo.

Desta forma, os atuais dirigentes do Ministério das Minas e Energia e da Petrobras vêm promovendo a saída do país do controle deste importante filão na matriz energética. Neste caminho, entregou a malha de gasodutos com 2,5 mil quilômetros da região Sudeste para o fundo financeiro canadense Brookfield. E ainda se prepara para entregar outros ativos para a espanhola Engie, cujo presidente mundial está no Brasil redigindo para o governo as novas regras de regulação para o setor.


Tudo isto, num contexto, em que já se sabe que o maior potencial das reservas do Pré-sal brasileiro é mais forte em gás natural, o que poderia oferecer ao país enormes possibilidades, mesmo que o país e a Petrobras pudessem fazer parcerias, garantindo a posição majoritária e o controle acionário destes ativos. 

Assim, isto tudo vem passando batido, no meio da confusão política que se abateu sobre o país, numa ânsia liberalizante, sem nenhuma visão estratégica e de construção de um projeto de Nação. É lamentável!

Leia do autor sobre o mesmo assunto:

A ampliação do poder estratégico e geopolítico do Gás Natural (GNL) na matriz energética mundial http://bit.ly/2gJhzSV

O crescimento do gás na matriz de energia do Brasil, seus significados em várias dimensões, inclusive a geopolítica http://bit.ly/2gKUcHk

Blog do Roberto Moraes [http://www.robertomoraes.com.br/]:30/11/2016.

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Roberto Moraes. Engenheiro. Professor do IFF. Pesquisador do PPFH-UERJ.

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