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Por Renata Agostini

Como avalia a iniciativa da presidente de se aproximar dos EUA?

É importante que o Brasil se alinhe a países como os EUA, não só a países mais pobres. É uma mudança de direcionamento dela muito grande.

A presidente mudou muito. Na política econômica, no trabalho com Joaquim Levy [ministro da Fazenda]. O que os EUA fizeram [espionar a presidente], não deveriam ter feito. Foi importante a reação dela, de manifestar a posição do Brasil. Mas quem fica chateado é namorado. O homem de negócios tem de ser racional, depois tem de conviver.

É impossível imaginar um país importante como o Brasil não conviver com os EUA.

A viagem pode trazer resultados práticos?

Sim, mas a gente precisa segurar um pouquinho a ansiedade. Nada é feito assim da noite para o dia.

O governo Dilma já havia lançado um programa de concessões e não conseguiu executar tudo. Acredita que, desta vez, será mais bem-sucedido?

O nosso projeto vamos entregar. Às vezes somos convidados para participar de outros, mas iremos numa segunda etapa. O programa tem algumas coisas que são sonhos e outras não. Aquele negócio da ligação com o Peru [torce o nariz]. Se não for viável ao longo do tempo, você vai aproveitando para outras coisas. Sou um otimista. Dilma sonha, é um sonho. Acho bacana sonhar. Eu sempre fui um sonhador.

A Cosan, então, não entrará no programa de concessões?

Agora não. Tenho de entregar a ALL na eficiência e na rentabilidade que a gente se propôs. Não adianta eu querer abraçar o mundo. Entre dois e três anos, vou deixar a Rumo ALL operando direitinho. Meu grande medo é querer fazer um monte de coisas e não fazer nada.

Acredita que o governo conseguirá atrair os investimentos estrangeiros necessários?

Sim. O mundo todo precisa desse escoamento. Não fazem isso porque são bonzinhos, mas porque precisam.

O clima político no Brasil, com a Lava Jato, interfere na tentativa de atrair o investidor?

Sim, mas o mercado financeiro tem memória curta. O Brasil é muito mais forte que qualquer crise política e financeira. E China e EUA têm de pensar no longo prazo. Hoje há excesso de dinheiro no mundo. E o Brasil é uma ótima oportunidade para quem pensa no longo prazo.

E caso surja um estrangeiro querendo um parceiro local?

Não fecho as portas para nada. Já temos sócios estrangeiros. Somos brasileiros, fazemos a diferença porque sabemos como proceder, lutamos pelos nossos direitos, política e economicamente.

Eu luto para defender minhas empresas no Executivo e no Legislativo. Estou no meu direito. Claro que não se pode fazer certas coisas que aconteceram por aí, mas eles [estrangeiros] precisam de alguém que more no Brasil.

A Petrobras anunciou um corte profundo no plano de investimentos. Como afeta os negócios do grupo?

Afeta um pouco, mas tinha que ser feito. Essa vontade gigantesca da Petrobras de participar de tudo e controlar tudo é um erro.

Qual é o impacto da crise nos negócios do grupo?

Em matéria de gás, já percebemos que o consumo está reduzindo para a indústria e para as residências. Está diminuindo também o consumo de gasolina, diesel e etanol. Mas estamos bem posicionados.

Vamos sofrer um pouquinho neste segundo semestre e talvez no primeiro do ano que vem. Mas pelo menos estamos pisando em bases sólidas. O trabalho que a presidente Dilma e o ministro Joaquim Levy estão fazendo, de trazer à tona todo o negócio que estava embaixo do tapete, é muito importante. Você hoje poderá saber exatamente quais são os números e fazer um planejamento sólido.

É bom às vezes ter seis meses ou um ano sem poder crescer tanto, para então voltar. O difícil é entrar no negócio de areia movediça, em que você não sabe a profundidade. Por isso, tem que fazer o ajuste. Estamos abaixando para ter energia para pular.

O clima político está dificultando o ajuste.

Acho que o Brasil está mostrando que as instituições funcionam independentemente de quem seja. No passado, você não sabia o que acontecia. Hoje, está sabendo. Mas política é política. Há interesses que são jogados de um lado e do outro, e é preciso saber amarrar.

Nas últimas semanas, o clima esquentou bastante, com mais informações da Lava Jato.

É bom. Duro é casamento sem briga. Quando há briga, há relacionamento honesto. O empresário brasileiro está começando a enxergar que tem de andar na linha.

O resultado do ajuste ainda é imprevisível. Traz incertezas?

Faz parte da vida. Pegar um voo e colocar no piloto automático, todo mundo quer isso. A vida não é assim. Em vez de Levy conseguir cem, se conseguir 75, é melhor do que quem não fazia nada.

Claro que não está conseguindo aprovar tudo. A economia está em recessão, a arrecadação diminuiu. O que se vai fazer? É a vida. Ele vai ter outras ideias.

Há algo, além das medidas já anunciadas pelo governo, que deveria ser feito para melhorar o ambiente de negócios?

Acho que o governo está na direção certa. Temos que segurar a ansiedade. Sou capitalista, estou gostando de ver o direcionamento que ela está fazendo no segundo mandato. A melhor maneira de você melhorar a eficiência e diminuir a inflação é por meio da concorrência.

A única maneira de acabar com a corrupção é tirar o governo como empresário. O governo tem que fomentar, controlar, regular. Mas tem de sair do “business”. Quanto mais o governo for nessa direção, e esse governo está começando a entender isso, muito mais eficiente vai ser.

Brasil 247: 06/07/2015. Para acesso ao texto integral da entrevista publicada originalmente na FSP: http://bit.ly/1LlHNF5

Renata Agostini. Jornalista.


Créditos de imagem: exame.abril.com.br

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