Em Destaques, Vida Nacional

O momento presente é turbulento e não se vislumbra nenhuma perspectiva de melhoria no curto prazo. Em primeiro lugar, por que a ciclotimia na economia parece que veio para ficar. Vejamos.

O noticiário do início da semana caminhava em pauta positiva — (1) no 1º. trimestre, cresceram as receitas (13%) e o lucros (21%) das empresas com ações cotadas no Ibovespa (excluindo as gigantes exportadoras: Petrobras e Vale), dizia estudo do Insper; (2) a taxa de desemprego, em abril, manteve-se estável e o rendimento dos ocupados cresceu 4,8%, informava o DIEESE; (3) o governo anunciou a perenização da desoneração dos encargos da folha de pagamento de 56 setores de atividades econômicas; (4) as estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre as dimensões do mercado informal da economia brasileira teriam se reduzido de 21% (em 2003) para 16% (2013) do PIB; (5) o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) — interrompendo um ciclo de nove elevações seguidas da taxa básica de juros —manteve estável a Selic: 11% ao ano. Tudo isto coroado pelo Índice Geral de Preços de Mercado/IGP—M, da FGV, que registrou deflação de 0,13% em maio.

Contudo, no final da semana, foi divulgada a evolução do PIB do primeiro trimestre, indicando o tímido crescimento de 0,2% (e vale destacar que o crescimento inexpressivo da economia não é primazia nacional, pois na semana também foi anunciada a evolução do PIB dos EUA que apontou crescimento de 1% nos primeiros três meses de 2014).

Voltando ao País da Copa, o baixo crescimento pode acirrar o clima de pessimismo com relação ao futuro imediato. Já eram cinzentas as manchetes econômicos dos jornais de quinta e de sexta-feira. “Confiança em queda livre deve segurar economia no 2º. trimestre”, era o prognóstico do Valor Econômico (30/5/14). E matéria de O Estado de S. Paulo arremata: “todos os cinco índices de confiança calculados mensalmente pela FGV apresentaram queda na passagem de abril para maio. As retrações foram registradas nos quatro setores pesquisados (indústria, serviços, comércio e construção) e também entre os consumidores” (“Confiança na economia tem queda generalizada” / OESP, 29/5/14).

Em segundo lugar, por que a tensão social não diminui: novas greves pipocam e outras paralisações perduram há semanas. Os movimentos sociais continuam hiper-ativos e, em Brasília — na confluência de pressões indígenas sobre o Congresso Nacional e de protestos contra a realização da Copa do Mundo no Brasil — houve conflito entre manifestantes e a PM. No Rio, durante operação repressiva em comunidade pobre, a polícia enfrentou resistência e houve morte. O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto também não deu trégua neste período e, com a proximidade da Copa Mundial de Futebol, prenunciam-se maiores mobilizações desta e de diversas outras organizações da sociedade civil.

As primeiras expressões organizadas de descontentamento com os transtornos que as constantes mobilizações das ruas trazem aos cidadãos, já aparecem. Por exemplo: um grupo de intelectuais “lançou nesta semana uma petição pública na internet pela garantia do direito de ir e vir durante os protestos. No texto, os acadêmicos defendem ‘um basta’ a protestos que prejudicam a circulação e pedem que as autoridades garantam os direitos dos demais cidadãos”. Para os signatários, “as manifestações devem acontecer, mas dentro dos limites da lei” (Folha de S. Paulo, 28/5/2014).

Em terceiro lugar, por que segue em conflito o campo político-institucional. Ganha destaque a briga entre o Parlamento e o Judiciário, em torno da distribuição regional do número de deputados federais.

O pugilato de governo versus oposição tem na CPI mista da Petrobras um palco privilegiado. Ela foi instalada no Congresso Nacional e a bancada governista, majoritária, venceu o primeiro round: ficou com a presidência — senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) —, a vice-presidência — senador Gim Argello (PTB-DF) — e a relatoria — deputado Marco Maia (PT-RS) — da Comissão. Diz a imprensa que, “dos 32 membros titulares da Comissão, apenas 10 são de partidos oposicionistas – embora três deputados do PMDB sejam considerados de postura mais ‘independente’, como o líder Eduardo Cunha (PMDB-RJ)”. (Duas votações da Comissão sugerem esta correlação de forças: Vital do Rêgo chegou à presidência por 19 votos a 10 e Gim Argello venceu com 18 votos contra 11). / (UOL, 28/5/2014).

Nas articulações de bastidores, o bloco partidário pró-reeleição avançou mais uma casa, no xadrez da sucessão: tal como ocorreu com o PTB na semana anterior, desta vez foi a cúpula do Partido Progressista que apresentou suas juras de fidelidade ao projeto eleitoral de Dilma Rousseff. Verbalmente, sete legendas já hipotecaram apoio à Presidente: PMDB, PSD, PP, PTB, PCdoB, PRB e PROS. Há a expectativa de mais duas outras adesões ao bloco: PR e PDT. Se os compromissos forem efetivados nas convenções partidárias de Junho, a Folha de S. Paulo (de 28/5/2014) calculou que a coligação a favor da reeleição terá cerca de 12 minutos em cada bloco de 25 minutos de propaganda na televisão, restando pouco mais de 4 minutos para a propaganda de Aécio Neves e menos ainda (cerca de 2 minutos) para Eduardo Campos. (Os restantes 6 minutos estariam distribuídos entre as legendas não-coligadas com estas três principais candidaturas presidenciais).

Além de cooptar partidos para a batalha da sucessão presidencial, os candidatos também estão à caça de recursos financeiros para esta que será uma dispendiosa campanha política. “Aos jornais, PT, PSB e PSDB já afirmaram que a receita global de suas campanhas presidenciais deve ficar perto dos R$ 500 milhões. Se a estimativa for essa, e verdadeira, significa que o voto, em outubro, custará R$ 3,50. […]. Em 2010, Dilma Rousseff declarou arrecadação de R$ 135,5 milhões. José Serra, de R$ 106,5 milhões. E Marina Silva, de R$ 24,1 milhões. Há 4 anos, portanto, o voto valia R$ 1,9 real, contando [o eleitorado total]. Com correção inflacionária […], algo hoje por volta de R$ 2,37” (Natuza Nery/FSP, 27.5.2014).

Parafraseando os norte-americanos, hoje estamos vivendo sob o melhor sistema de representação política que o dinheiro pode comprar.

Créditos de imagem: fecomercio.com.br

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