Em Destaques, Vida Nacional

Por Nilson Lage

 

Uma epidemia de burrice contamina as esquerdas, fruto de voluntarismo delirante que não mede o passo e confunde o que é com o que deveria ser.
As oligarquias estão assentadas no Brasil desde os tempos da colônia. Impediram a reforma agrária associada à superação da escravidão proposta por José Bonifácio.

Construíram seu poder durante o império e, passado o episódio positivista dos primeiros anos da república, implantaram o modelo de coronelismo e corrupção que persiste até hoje, enraizado em cada município, em cada comarca, no campo e nas cidades.
Contra as oligarquias levantaram-se os tenentes. Ungido na presidência, quebrada a sequência acordada do café-com-leite, Getúlio Vargas nomeou-os interventores nos estados pensando dominá-las.

Não deu.

Sobreviveram aliadas a forças externas e se fortaleceram no pós-guerra, negociando favores e cobrando gorjetas da modernidade. As mais pérfidas oligarquias assentaram-se nos estados mais desenvolvidos.

Os militares, na ditadura, não encararam – pelo contrário, acomodaram-se.
Sem negociar com as oligarquias, ninguém governa o Brasil.

Se Lula não lhes cedesse espaços – portanto, à sua forma escrota de ser –, não governaria.
Não teria havido mudança social alguma, nem as universidades, as escolas técnicas, a indústria pesada, o sonho de independência.

No entanto, o tempo dos acordos parece terminado.

No frigir dos ovos, qualquer solução política proposta, na crise de agora, levará à devolução do poder integral às oligarquias que, como sempre, negociarão favores e cobrarão gorjetas.

A superação desse impasse só seria possível com a revisão crítica do modelo democrático e da instância jurídica, o que implica conter as forças externas que sempre apoiaram e se apoiaram nas oligarquias brasileiras.

O Brasil é um país vulnerável e literalmente desarmado para uma ação libertária dessa proporção sem o amparo de uma conjuntura internacional que talvez esteja se formando – daí a pressa com que se armou o golpe.

 

Facebook do autor: 20/03/2016.

Nilson Lage. Jornalista. Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Imagem: Adital

Facebooktwitter