Em Conjuntura Internacional, Destaques

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Com a eleição de Mauricio Macri para presidente da Argentina, o governo desenvolvimentista de Duhalde e dos dois Kirchner cede lugar a um governo liberal. O que muito satisfaz o Oeste, ou seja, o establishment mundial imperial, e também as elites locais liberais subordinadas, para os quais os Kirchner se tornaram inimigos, porque lograram reduzir a dívida externa da Argentina em 75%, e porque mostraram sempre independência em relação a esse Oeste. Para eles o governo dos Kirchner foi um fracasso – o que está longe de ser verdade – e um governo liberal trará a felicidade para todos…

Na verdade, o desenvolvimentismo argentino foi muito bem sucedido até 2008, beneficiado pela grande elevação do preço das commodities, e pelas retenciones sobre a exportação de soja, carne e trigo, que impediram que a taxa de câmbio se apreciasse devido a esse aumento de preços. Em consequência o país começou a se reindustrializar, e as taxas de crescimento giravam em torno de 7% a 8% ao ano.

Mas, a partir de 2009, a taxa de crescimento caiu, porque houve a Crise Financeira Global de 2008, porque, diante da inflação que o alto crescimento trouxe sem que a oferta local pudesse acompanhá-lo, o governo decidiu usar o câmbio para segurar a inflação e esta taxa se apreciou, e, um pouco mais tarde, porque os preços das commodities caíram. Em consequência, a taxa de crescimento caiu, e o saldo em conta-corrente, que era positivo, zerou ou tornou-se ligeiramente negativo. Felizmente para a Argentina e sua indústria, a taxa de câmbio não logrou apreciar-se ainda mais porque existe na Argentina um impedimento a isto. A Argentina continua sem acesso aos mercados mundiais, e, portanto, a taxa de câmbio não pode cair mais ainda, porque não há como financiar o déficit em conta-corrente. Mas apreciou-se no mercado interno paralelo, na medida em que o governo era obrigado a controlar capitais.

Assim, compreendemos porque as taxas de crescimento dos últimos anos foram insatisfatórias. Mas o governo não perdeu o controle da economia, como aconteceu no Brasil, e o crescimento médio do período todo foi satisfatório.

Agora temos um governo liberal. Nenhum governo liberal deu certo na Argentina desde 1950. Nem os liberal-autoritários, comandados por militares, nem os liberal-democráticos, que levaram o país a grandes crises financeiras. O que provavelmente acontecerá será o governo tentar recuperar a todo custo o crédito internacional da Argentina (o que não é bom para ela) e eliminar as retenciones, ao invés de torná-las variáveis. O resultado serão déficits em conta-corrente elevados e a correspondente taxa de câmbio valorizada, que, novamente, inviabilizara a indústria argentina e o crescimento. Vamos esperar.

Da página do autor no FB: 24/11/2015.

Luiz Carlos Bresser-Pereira. Economista.


Imagem: Juan Mabromata/AFP

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